quinta-feira, 26 de abril de 2012

Exercício de memória para Estoriadores enferrujados

http://www.coletivokrisis.blogspot.com.br/search?updated-min=2010-01-01T00:00:00-02:00&updated-max=2011-01-01T00:00:00-02:00&max-results=50

"FODA-SE."


pouco mais de um ano, e o que mudamos?

quarta-feira, 25 de abril de 2012

E a Amazônia é de quem mesmo?

http://br.noticias.yahoo.com/for%C3%A7a-nacional-recebe-amea%C3%A7a-recua-sul-amazonas.html

Capitalismo verde ainda é capitalismo



Todo mundo sabe que está na moda falar sobre “capitalismo sustentável” e “economia verde”. Todas as empresas se apresentam como sendo ambientalmente corretas e socialmente responsáveis e o termo sustentabilidade é a bola da vez.

O problema é que conciliar a conservação do meio ambiente e a produção capitalista de bens de consumo parece impossível. Além disso, as empresas e países têm resistido ao debate, já que preservar significa custos e consequentemente diminuição no lucro.

Até agora, pelo menos, a única perspectiva de debate que vamos assistir será a Rio +20 que acontecerá no Rio de Janeiro e pretende atualizar os protocolos de intenções dos países que vão ter um papel mostrando que se preocupam com o meio ambiente. Possivelmente nada farão na prática, assim como foi com Kyoto.
Mas surgiu uma luz para as empresas: E se ao invés de limitarem a produção em prol do meio ambiente, porque não fazer dos próprios recursos naturais mais uma forma de lucro? Surgiu assim o debate para a venda de créditos de carbono [conhecido pela sigla REDD - Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação].

A proposta é que ao invés de diminuir o seu próprio impacto diminuindo a produção a empresa pode “colaborar com o mundo” comprando uma floresta. E os países que ainda têm floresta não precisaram se sentir culpados por não terem acabado com suas florestas, porque receberão dinheiro por isso.
No momento, propostas de projetos assim já começaram a surgir, mas todos ainda aguardam uma regulamentação global da prática para que possamos produzir poluição e degradação e trocar por rios, ar e quem sabe, até povos tradicionais.

Mas isso é sustentabilidade ou economia verde? O conceito de sustentabilidade está associado a pensar no futuro, produzir para que se possa continuar produzindo. Mas a lógica capitalista de produção não funciona dessa forma, já que quanto mais escasso é um produto, mais valioso ele é.  Como já explicou em um artigo Camila Moreno, coordenadora de sustentabilidade da Fundação Heinrich Böll, a Economia Verde carrega uma grande contradição: ela só produz riqueza quando há escassez dos recursos naturais. Afinal, se houvesse, por exemplo, água para todos, alguém precisaria pagar por ela?

A proposta em discussão que temos significa somente a mercantilizarão da natureza. Não estamos caminhando para um mundo mais justo, com mais produção de alimentos e que assegure os recursos mínimos para sobrevivermos. Estamos assegurando somente a manutenção da economia vigente e com novas palavras que impulsionam o marketing. Estão pintando uma economia já velha de verde.

Destaco que um dos temas do evento Rio +20 é a erradicação da miséria. Mas os debates sociais que englobam também a proteção dos povos originários ficaram de lado, e serão debatidos em um evento paralelo, chamado Cúpula dos Povos, que ainda precisa conseguir autorização para o local. Afinal, não acharam que iriam reunir todos os líderes do planeta pra discutir esses detalhes, não é?

É importante pensar no meio ambiente. Mas que ele não seja só mais um meio para viabilizar o capitalismo. Mesmo que seja pintado de verde, ainda é capitalismo.

sábado, 14 de abril de 2012

Mas as pessoas na sala de jantar... (enquanto assistem Jornal Nacional)


Eu quis cantar
Minha canção iluminada de sol
Soltei os panos sobre os mastros no ar
Soltei os tigres e os leões nos quintais
Mas as pessoas na sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer

Mandei fazer
De puro aço luminoso um punhal
Para matar o meu amor e matei
Às cinco horas na avenida central
Mas as pessoas na sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer

Mandei plantar
Folhas de sonho no jardim do solar
As folhas sabem procurar pelo sol
E as raízes procurar, procurar

Mas as pessoas na sala de jantar
Essas pessoas na sala de jantar
São as pessoas da sala de jantar
Mas as pessoas na sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer

terça-feira, 10 de abril de 2012

O meio e o fim do ambiente...

[Recebi esse texto por email, não achei a autoria...]

Na fila do supermercado, o caixa diz uma senhora idosa:
- A senhora deveria trazer suas próprias sacolas para as compras, uma vez que sacos de plástico não são amigáveis ao meio ambiente.
A senhora pediu desculpas e disse:
- Não havia essa onda verde no meu tempo.
O empregado respondeu:
- Esse é exatamente o nosso problema hoje, minha senhora. Sua geração não se preocupou o suficiente com nosso meio ambiente.
- Você está certo - responde a velha senhora - nossa geração não se preocupou adequadamente com o meio ambiente. Naquela época, as garrafas de leite, garrafas de refrigerante e cerveja eram devolvidos à loja. A loja mandava de volta para a fábrica, onde eram lavadas e esterilizadas antes de cada reuso, e eles, os fabricantes de bebidas, usavam as garrafas, umas tantas outras vezes.
Realmente não nos preocupamos com o meio ambiente no nosso tempo. Subíamos as escadas, porque não havia escadas rolantes nas lojas e nos escritórios. Caminhamos até o comércio, ao invés de usar o nosso carro de 300 cavalos de potência a cada vez que precisamos ir a dois quarteirões.
Mas você está certo. Nós não nos preocupávamos com o meio ambiente. Até então, as fraldas de bebês eram lavadas, porque não havia fraldas descartáveis. Roupas secas: a secagem era feita por nós mesmos, não nestas máquinas bamboleantes de 220 volts. A energia solar e eólica é que realmente secavam nossas roupas. Os meninos pequenos usavam as roupas que tinham sido de seus irmãos mais velhos, e não roupas sempre novas.
Mas é verdade: não havia preocupação com o meio ambiente, naqueles dias. Naquela época só tínhamos somente uma TV ou rádio em casa, e não uma TV em cada quarto. E a TV tinha uma tela do tamanho de um lenço, não um telão do tamanho de um estádio; que depois será descartado como?
Na cozinha, tínhamos que bater tudo com as mãos porque não havia máquinas elétricas, que fazem tudo por nós. Quando embalávamos algo um pouco frágil para o correio, usamos jornal amassado para protegê-lo, não plastico bolha ou pellets de plástico que duram cinco séculos para começar a degradar. Naqueles tempos não se usava um motor a gasolina apenas para cortar a grama, era utilizado um cortador de grama que exigia músculos. O exercício era extraordinário, e não precisava ir a uma academia e usar esteiras que também funcionam a eletricidade.
Mas você tem razão: não havia naquela época preocupação com o meio ambiente. Bebíamos diretamente da fonte, quando estávamos com sede, em vez de usar copos plásticos e garrafas pet que agora lotam os oceanos. Canetas: recarregávamos com tinta umas tantas vezes ao invés de comprar uma outra. Abandonamos as navalhas, ao invés de jogar fora todos os aparelhos 'descartáveis' e poluentes só porque a lámina ficou sem corte.
Na verdade, tivemos uma onda verde naquela época. Naqueles dias, as pessoas tomavam o bonde ou ônibus e os meninos iam em suas bicicletas ou a pé para a escola, ao invés de usar a mãe como um serviço de táxi 24 horas. Tínhamos só uma tomada em cada quarto, e não um quadro de tomadas em cada parede para alimentar uma dúzia de aparelhos. E nós não precisávamos de um GPS para receber sinais de satélites a milhas de distância no espaço, só para encontrar a pizzaria mais próxima.
Então, não é risível que a atual geração fale tanto em meio ambiente, mas não quer abrir mão de nada e não pensa em viver um pouco como na minha época?

segunda-feira, 9 de abril de 2012

É feriado no Camboja

Tá vendo agora o motivo do teu tênis ser mais barato?


[fonte: Virgula UOL]

Cerca de 200 funcionários entram em colapso na fábrica da Nike no Camboja


Na última sexta-feira (6), 198 trabalhadores entraram em colapso na fábrica da Nike no Camboja. "Estamos muito preocupados com isso", disse o Secretário-geral da Associação de Fabricantes de Vestuário no Camboja. O fato ocorreu apenas dois dias após pelo menos 107 trabalhadores da mesma fábrica desmaiarem.

Estes são os últimos de uma série de incidentes de desmaios em massa no país. Em 2011 aconteceram incidentes em pelo menos 11 confecções. Os casos têm sido associados aos baixos salários e ao impacto sobre a nutrição dos trabalhadores, bem como à pouca ventilação, exposição a produtos químicos, e excesso de horas de trabalho.

Em agosto do ano passado, 284 trabalhadores desmaiaram em uma fábrica localizada na província de Kompong Chhnang que fornece para a H&M. Alguns empregados relataram ter sentido um cheiro forte vindo das camisetas antes do desmaio. Em junho, 49 trabalhadores adoeceram em uma fábrica que produz roupas para a Puma. 


Então, você foi para a escola por um ano ou dois
E acha que você já viu de tudo
No carro do papai pensando que vai longe
Lá no oriente seu tipo, não rasteja
Toca jazz pra se mostrar seu otário
No seu estéreo cinco estrelas

Dizendo que sabe como os negros sentem frio
E que a favela tem tanta alma
É hora de provar aquilo que você mais teme
A Guarda Direitista não irá ajudá-lo aqui
Aguente, meu querido
Aguente, meu querido

É um feriado no Camboja
É difícil, garoto, mas é a vida
É um feriado no Camboja
Não esqueça de matar uma esposa

A barriga estriada, você suga como uma sanguessuga
Quer que todos ajam como você
Beijando bundas como uma puta pra ficar rico
Mas teu patrão fica mais rico que você
Bem, vai trabalhar mais duro com uma arma nas costas
Por uma tigela de arroz por dia
Será escravo dos soldados até você morrer de fome

Então sua cabeça será espetada em uma estaca
Agora você pode ir onde as pessoas são uma só
Agora você pode ir aonde eles fazem as coisas acontecerem
O que você precisa, meu filho...
O que você precisa, meu filho...

É um feriado no Camboja
Onde as pessoas se vestem de preto
Um feriado no Camboja
Onde você beija bundas ou morre

Pol... Pot,
Pol... Pot,
Pol... Pot,
Pol... Pot*

E é um feriado no Camboja
Onde você faz o que te mandam
Um feriado no Camboja
Onde a favela tem tanta alma
Pol Pot!

Notícias sobre a Operação de Lula

      Como largamente divulgado pela imprensa marromena, Lula foi diagnosticado como portador de um câncer na laringe. Foi submetido à cirurgias e quimioterapias. A foto abaixo é uma foto da primeira visita de FHC a Lula no hospital.



Após calçar as luvas, FHC submeteu Lula à cirurgia que viria a trazer de volta ao rosto de Lula aquela alegria de sempre. A foto abaixo foi tirada pela nossa equipe em coletiva de imprensa.
 
"e olha que foi só uma barbeada", disse FHC com lágrimas nos olhos de tantas risadas. Lula, em companhia do velho ídolo disse que recusou a anestesia "foi como tirar o peso de uma máscara". Uma repórter desmaiou durante a coletiva da imprensa, devido a uma 'súbita visão duplicada de tucanos voando e rindo como corvos no palanque' - a imprensa petista negou o emprego [sic] de efeitos especiais no palco.
Lula passa e cozinha bem.

domingo, 8 de abril de 2012

Sem Coração

Brillaba el cielo, había luna llena
brillaba la luna, clara
como el sol por la mañana
yo iba siguiendo el corazón calle arriba
y no sé por qué,
empecé a romper retrovisores
de los coches aparcados
¡Fuego al Clero!
Incendié una catedral
y destrocé una sucursal
del Banco de Santander...

¿por qué?, ¿por qué?, ¿por qué?
porque no tengo corazón,
que es que no veis que no,
que yo no tenía corazón.
 Era uma vez um menino que pensava que era mau. Todo dia ele saía pra rua (depois eu conto o que ele fazia dentro de casa) e bancava o malvadão. Só para vocês saberem a malvadeza que era ser esse menino, um dia desses ele viu um homem com o dobro do tamanho dele jogar uma garrafa dessas de refrigerante no chão do metrô. A gente sabe que qualquer pessoa boa faria alguma coisa - pegaria a garrafa, ou falaria uns palavrões, ou mesmo daria um soco no sujeitaço. Mas o nosso menino mau, não... esse era muito mau, e por isso, não fez nada. 
Não vou dizer que ele é de todo mau, por quê no fundo ele ainda pensou em algo para fazer, mas logo parou e pensou Ahh... e voltou aos pensamentos habituais. Coisas 'más'.
Outra vez ele estava no ponto de ônibus e uma senhora muito feia caiu bem na sua frente, derrubando sem querer todas as batatas que com tanto esmero tinha escolhido no mercadinho careiro de duas quadras pra lá (o mais perto de onde estavam). Pois nosso menino exemplarmente mau... sequer olhou. Sabia que estava acontecendo alguma coisa, mas sabia também que se olhasse, teria que fazer alguma coisa (isso me faz pensar que ele não era tão mau assim). A pobre senhora feia catava as batatas em meio às poças de água e às ondas que alguns carros arremessavam contra ela. Uns outros e outras aproveitavam a cegueira da cidade e davam risadinhas. Um cancro, esse ponto de ônibus.

Mas ele era um exemplo de maldade era em casa. Era o diabo, praticamente. Se trancava em seu quarto e passava dias e noites inventando feitos na internet. Tinha uma outra personalidade, a virtual, e essa era uma maldade digna de grandes malfeitores. Lá dizia tudo que não era, aumentava as pequenas coisas que imaginava que tinha feito, era rude, duro, corajoso e belo. E toda rede social virtual estava contaminada. Todos eram maus e más. Um ou outro ser humano se salvava, mas quase não aparecia, ocupado que estava tentando fazer alguma coisa. 

Um amigo lhe disse que ele era mais mau que o hitler. Porque o hitler matava as pessoas pensando num mundo melhor (que era melhor para seu grupelho assassino), mas ele, o nosso menino mau, era mau, por quê sequer pensava num mundo melhor, só pensava no seu próprio umbigo, era um inerte. O menino sorriu algo confuso - ser pior que o hitler não era para qualquer um. O amigo apressou-se em justificar que hitler era mau, muito mau, que assassinou milhões de pessoas, e que era mau e mau e mau, mas tinha um sentido pelo menos. Esse amigo também não era bom da cabeça, por isso eram tão irmanados.
Às vezes esse menino até sentia vontade de fazer alguma coisa, quando via alguma situação que era capaz de ajudar. Mas sempre pensava Me falta coração... e preferia então ser mau.

mas no fim, não era tão mau... acho que no fim
era só um babacão, covarde e preguiçoso.

 

hay que organizarse
hay que organizarse
hay que organizarse
hay que organizarse...
[a música é Corazón, do Albert Pla]
eita mundão de meu deus.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

[Grécia] Suicídio público em frente ao Parlamento

Um aposentado de 77 anos suicidou-se nesta manhã na praça principal de Atenas, Sintagma (Constituição), em frente ao Parlamento. Foi um dos muitos suicídios realizados durante os últimos anos na Grécia. Talvez a palavra suicídio esteja colocada errada. Na realidade se trata de um assassinato. As condições desumanas de insegurança, precariedade, miséria e raiva que geraram o Sistema, conduzem ao desespero e à morte.
A Grécia é um dos primeiros países na Europa em número de suicídios por habitantes, apesar de alguns anos atrás ter sido um dos países com menor número de suicídios na Europa. Segundo dados oficiais, há um aumento de 40% entre janeiro e maio deste ano em relação ao mesmo período de 2010. Os suicídios dobraram desde que começou a chamada crise, há aproximadamente dois anos. E vão crescendo dia a dia. Somente hoje, 4 de abril, uma outra pessoa cometeu suicídio em Creta, enquanto outra pessoa tentou o suicídio na ilha de Quios.
O aposentado enfrentava enormes problemas econômicos que o levaram ao desespero. Às 9 horas da manhã ele deu um tiro com uma arma em si mesmo, escolhendo acabar com a sua vida em um local simbólico. No bilhete que ele deixou [primeira imagem em anexo] diz:
"O governo de ocupação de Tsolákoglu¹ destruiu literalmente todos os vestígios da minha sobrevivência, que se baseava em uma pensão digna, onde eu estive pagando por 35 anos (sem apoio do Estado).
E como que eu tenho uma idade que não me permite uma reação combativa (certamente sem excluir essa possibilidade; Se apenas uma pessoa pegasse uma Kalashnikov, o segundo seria eu), não consigo encontrar outra solução, salvo um fim decente, antes de começar a procurar comida no lixo para se alimentar.
Creio que os jovens sem futuro vão pegar em armas e vão enforcar aos traidores nacionais de cabeça para baixo na Praça Syntagma, como os italianos fizeram com Mussolini em 1945, na Praça Loreto, em Milão”.
Hoje, quarta-feira, 4 de abril, às 18h, irá acontecer uma manifestação na Praça Syntagma, em Atenas. Na segunda imagem [em anexo] mostra o cartaz-chamada para a manifestação. Coloca os dizeres: "Não foi um suicídio. Foi um assassinato. Que não nos acostumemos com a morte”. Outras manifestações terão lugar em Tessalônica e Heraklion, em Creta.
Algumas semanas atrás escrevemos que nos tiram os salários e pensões, nos estão tirando a própria vida. Não era uma metáfora. A pessoa que cometeu suicídio na praça principal de Atenas foi um dos muitos casos que justificam esta constatação. Poucos dias atrás uma pessoa idosa tirou a vida na ilha de Zante, deixando uma nota que dizia: "Não quero ser um peso para os meus filhos". Muitos suicídios não estão vindo à luz do dia. O capitalismo já nos mostrou a sua verdadeira face há muito tempo.
Eles estão matando nossos sonhos, estão saqueando nossas vidas, estão matando seres humanos, próximos a nós. Tens as mãos manchadas com sangue, mas enchem os cofres fortes, os seus e os de seus patrões. Conduzem as massas à miséria, mas... nos estão "salvando". Eles disparam contra nossas vidas, mas... nos prometem um "futuro melhor". O Capital e o Estado nos levam a miséria, a indignação, a morte. Não podemos permanecer passivos, contemplando-os nos executando a sangue frio! Não podemos ficar de braços cruzados e que os vejamos nos matando, roubando-nos a vida, nos matando diariamente. Precisamos de mais exemplos marcantes para fazer o que nos incita a fazer o aposentado² que se viu forçado a cometer suicídio em frente ao Parlamento? Não só os oprimidos no território do Estado grego. Os oprimidos de toda a terra.
PS: Este não é momento adequado de dedicar tempo para criticar ou analisar as lágrimas de crocodilo derramadas pelos políticos e os meios de desinformação.
[1] Primeiro-ministro grego, nomeado pelas forças de ocupação alemãs durante a ocupação do país pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial.
[2] Claro que não estamos de acordo com os traidores nacionais. No entanto, todos entendemos a mensagem e a interpretamos de diferentes maneiras...
agência de notícias anarquistas-ana
a chuva cai forte
e os ruídos que sobem
corroem meus olvidos
Thiago de Melo Barbosa

domingo, 1 de abril de 2012

Dica Krisis: O homem que sabe - do Homo Sapiens à crise da razão


"A mudança sempre foi uma característica de tudo o que vive, especialmente a vida orgânica, marcada por um sistema de trocas, de retroalimentação constante, e, mesmo o inorgânico, uma pedra, hoje sabemos, também esta em movimento. Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio, dizia Heráclito, não apenas porque as águas correm, mas porque nós também não somos o mesmo, nunca. Assim como a natureza, a cultura sempre esteve marcada por mudanças, me lembro do meu avo assistindo TV e esbravejando a perdição da juventude. Com tudo isso, podemos perguntar, o que há de novo nos impasses que a cultura hoje enfrenta?

Acredito que exista sim uma especificidade em nosso tempo, que instaura uma mudança nas estruturas mais profundas da cultura. Não vivemos, eu penso, apenas uma mudança, mas uma interseção de mudanças que aponta para a emergência de um novo homem e de uma nova sociedade. Três são os eixos desta transformação: a exaustão ambiental e a instabilidade climática, gritando em nossos ouvidos a fragilidade da cultura e reinstaurando o valor da vida; a revolução tecnológica com sua radical mudança de meios, fazendo a civilização sair de um modelo linear de raciocínio e comunicação para um modelo complexo que se estrutura em redes; uma reordenação nas relações de poder da sociedade, que, em função da crise ambiental e das novas tecnologias, sai do modelo piramidal para uma estrutura hierárquica horizontalizada onde quem manda e quem obedece estão sempre muito próximos, além de uma reordenação econômica que se deu entre países ricos, pobres e emergentes. Da somatória destes três eixos temos como resultante uma radical e profunda mudança de valores, e toda mudança de valores traz conseqüências significativas. Estamos saindo, hoje, de um capitalismo de produtos para um capitalismo de conceitos, do real ou do atual para o virtual. Diante de novas e inusitadas questões, diante da queda de valores e da emergência de novos, torna-se necessário voltar ao começo: quem somos, quem queremos ser e qual a sociedade em que queremos viver?

O livro “O Homem que Sabe- do homo Sapiens a crise da razão” busca refazer a trajetória desta transformação, que começa com o surgimento da consciência, com o início dos rituais fúnebres, há cem mil anos, inaugurando o desdobramento moral que instaura o primeiro valor, a vida, passando pelo nascimento das interdições, ou seja, das leis, como a que exige que os corpos não sejam deixados como alimento a outros animais, e, ao mesmo tempo, como o outro lado desta mesma moeda, a transgressão, como suspensão provisória da lei permitindo as festas e o erotismo. A seguir, discutimos o surgimento da linguagem estruturada como o filtro que configura o mundo em signos, como mapa do mundo, que terminara por produzir estruturas conceituais cada vez mais elaboradas. A mitologia grega é então pensada como um esboço do mundo, um sistema que se utilizando da arte nos conta o mundo, o apresenta por meio de signos, de relatos, de linguagem. Falamos da epopéia e da tragédia grega como dois modos distintos de lidar com a dor, com a morte e com a vida; agora a morte aparece não como experiência refletida como consciência e valor, mas como fundamento de novos valores. A beleza como uma forma de maquiar a dor, e a arte como uma maneira de fortalecer o homem para lidar com o sofrimento constitutivo da vida. E, a seguir, falamos do nascimento da razão na Grécia clássica, como o primeiro modelo estruturado, não mais do mundo, mas do homem. A razão é então vista como uma linguagem que busca afastar a mudança, as contradições, em busca do imutável, da verdade. Agora o homem surge como um valor, e acredita, como sujeito que age, poder atingir, pela via da causalidade, a ferida da existência, a morte e a dor, e cura-lá. Aqui nasce o modelo de homem e de pensamento, a razão, que nos constituiu ate o século XX, mas que se desintegra enquanto este século caminha em direção ao século XXI. Se a razão grega foi, de algum modo, fortalecida pelo pensamento moderno com seu fanatismo pelo controle da natureza, dando ao mesmo tempo lugar ao surgimento da revolução industrial e do capitalismo de produtos, por outro, a exaustão desse modelo, seu esgarçamento, ocorre como tecido que se rompe permitindo não mais uma linha que segrega, quando julga o bem ou mal o certo ou o errado, mas uma multiplicidade de linhas e valores que se entrecruzam em uma rede, ou em redes de valores, de relações e de informações, de conhecimentos. Falo então de um novo modelo de razão mais ampliado, trazido pelo pensamento kantiano, que inclui a arte como um dos pilares desta razão que não é apenas teórica e prática, mas sensorial e estética. E, enfim, termino o livro afirmando esta razão ainda mais ampliada por Schiller e NietZsche, que afirmam, cada um a seu modo, a necessidade de repensar o pensamento e a educação como espaço de produção e reprodução de saberes. Educar para a vida, afirmar a vida e seu valor, acima das excessivas configurações de linguagem que sustentaram as castas, as exclusões que marcaram a civilização ate aqui. Sempre afirmando a arte, a criação, o lúdico, como uma necessidade deste homem que sabe, desde que se tornou humano, que um dia vai morrer."

Breve artigo escrito por Viviane Mosé sobre sua obra "O homem que sabe - do Homo Sapiens à crise da razão"