quinta-feira, 10 de março de 2011

Revolução Jasmim: Terra, pão e liberdade!

Até quando deixaremos mestre-sala, porta-bandeira, rainha de bateria e todo esse ideário carnavalesco, que infelizmente se tornou mercadológico, ofuscar o "samba-enredo" de muitos por condições dignas de sobrevivência?


EDIÇÃO nº 1054; ano 25; 2ª semana Março 2011.

Nem no Egito, nem na China tem carnaval.

Terra, pão e liberdade. É isso que se reivindica do Magreb a Pequim. A mesma coisa no mundo muçulmano no mundo confuciano. Dois mundos religiosos unidos por três fenômenos materiais muito comuns no regime capitalista 
 JOSÉ MARTINS

          Um espectro assombra o governo da China: é o espectro da “revolução de Jasmim”. Esse é o nome pelo qual é chamada a onda de rebeliões por pão e liberdade que estão a sacudir o norte da África e o Oriente Médio. Agora ficamos sabendo que a “revolução de Jasmim” não acontece apenas no mundo árabe ou no mundo muçulmano. Ela se estende também para o mundo de Confúcio.
          E para combater esse espectro, o governo chinês entope as principais cidades do país com um monumental aparato policial de repressão. Mais do que monumental, um paranóico aparato de repressão às pessoas, aos meios de comunicação (celulares, internet, blogs, twitters, imprensa, etc.) e... às assombrações! 1

DO CAIRO PARA PEQUIM – Agora descobrimos que a celebre Praça Thair, do Cairo e a não menos famosa Tiananmen, em Pequim, do mesmo que Praça do Povo, em Shanghai, têm muita coisa em comum. Veja este outro breve relato do que se passa atualmente nas praças das maiores cidades da segunda maior economia do mundo: “A China prendeu dezenas de ativistas e mobilizou um forte esquema de segurança em suas principais cidades, depois de uma campanha lançada na internet para convocar manifestações pelos direitos humanos inspiradas pelas rebeliões populares contra regimes autoritários que se espalham pelo mundo árabe desde janeiro. O governo estaria censurando mensagens de texto de celulares e na internet de convocação para os protestos, revelando o tamanho da preocupação do governo chinês com a possibilidade de uma rebelião mobilizada como as que derrubaram os regimes na Tunísia e no Egito. „Saudamos (...) trabalhadores demitidos e vítimas dos despejos forçados que queiram participar das manifestações, gritar slogans e buscar a liberdade, a democracia e reformas políticas para acabar com o 'partido único'", diz uma das mensagens divulgadas na rede. Os manifestantes são instruídos a disseminar slogans como "queremos comida para comer", "queremos emprego", "queremos casas", "queremos justiça", "vida longa à liberdade" e "vida longa à democracia". Pelo menos duas pessoas foram vistas sendo levadas pela polícia, uma por xingar as autoridades e outra por gritar "quero comida para comer". 2
          Terra, pão e liberdade. É isso que se reivindica do Magreb a Pequim. Do mesmo modo que no mundo árabe, também no mundo asiático. Dois mundos religiosos unidos por três fenômenos materiais comuns e... altamente explosivos: expropriação de terras dos pequenos camponeses; alta descontrolada dos preços dos alimentos; preços e alugueis proibitivos das moradias populares.
Mas, afinal, por que haveria de ocorrer na tão festejada “nova potência mundial”, segunda maior economia do mundo e tantas outras brilhantes credenciais, esse tipo de rebelião que, supõe-se, só deveria ocorrer em países pequenos e atrasados, como aqueles do norte da África e do Oriente Médio? Por que acontece na China e não acontece na Alemanha e no Japão, cujos PIBs (produto interno bruto) foram recentemente ultrapassados por essa magnífica experiência do “socialismo de mercado” jamais imaginada pelos marxistas?

QUEM SÃO OS AMIGOS DO POVO – A coisa é altamente complexa. Para iniciar a penosa resposta, uma primeira pista pode ser encontrada na composição da solene massa de representantes do povo presente ao não menos solene anual Congresso Nacional do Povo, iniciado ontem, 04/Marco/2011, na cidade de Pequim. Em esclarecedora matéria sobre a abertura do Congresso, o que mais chama a atenção dos jornalistas da agência Bloomberg é o fato que os 70 membros mais ricos do Congresso do Povo acumulam uma riqueza de 75.1 bilhões de dólares e inclui o homem mais rico da China, Hangzhou Wahaha, presidente do Grupo Qinghou.
          Fazendo a comparação: os 70 membros mais ricos do Congresso dos Estados Unidos (Câmara e Senado), que representam um país com renda per capita pelo menos 10 vezes maior que a da China, acumulam uma riqueza somada de aproximadamente 4.8 bilhões de dólares. É bem provável que se alguém fizer esses mesmos levantamentos e comparações com outros democráticos Congressos de outras florescentes experiências econômicas do sistema, como os Brics Brasil, Rússia e Índia, cheguem às mesmas conclusões que a Bloomberg encontrou na China.
          E completa a matéria: “A presença de bilionários no Congresso, que é o corpo legislativo mais elevado que se reúne para aprovar planos econômicos e fiscais, é conseqüência da abertura do Partido Comunista para os capitalistas aderirem, há uma década. Isso agora prejudica os esforços para combater as desigualdades, como a aplicação de taxas elevadas nas grandes fortunas, transparência no sistema financeiro e impostos sobre a propriedade imobiliária. O maior problema para se aprovar as taxações sobre as propriedades é o Congresso do Povo. Quem acredita que essas pessoas ricas representa os interesses das pessoas que precisam de ajuda?” 3
          Mas o Estado capitalista chinês não tem outra saída: são esses amigos do povo que devem dar uma resposta para as massas que começam a gritar aquelas históricas palavras de ordem como "queremos comida para comer", "queremos emprego", "queremos casas", "queremos justiça", "vida longa à liberdade" e outras coisas fundamentais à sobrevivência da espécie.

1 “Convocações para astuciosos protestos põem as forças de segurança da China em polvorosa. Tweeters convocando para ‘passeatas’ dominicais pela China caem como verdadeiras bombas psicológicas contra o governo, levando a um paranóico aparato de caça às assombrações” (Los Angeles Times, “Calls for subtle protests have China security forces in tizzy”, 05/Março/2011 http://www.latimes.com/news/nationworld/world/la-fg-china-jasmine-revolution ).
  “A repressão chinesa sobre a Revolução Jasmin da China faz parte de uma série de duras medidas destinadas a garantir que os movimentos populares visando a derrubada dos regimes autoritários na Norte da África e Oriente Médio não se espalhem para a China” (Christian Science Monitor, Report on China Jasmine Revolution? No IF you want your Visa” 03/Março/2011 www.csmonitor.com
2 G1/Agências “Polícia chinesa reprime protestos convocados pela internet”,http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/02/ 20/Fev/2011“
3 Bloomberg News, “Wen Jiabao Sees Billionaires When Communists Convene as Wealth Gap Widens” 04/arço/2011 http://www.bloomberg.com/news/ 

Texto tirado do site: http://www.almascorsarias.com.br/

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