Letras Vermelhas - Por E.R.Saracino

Humor e Ideologia, conhece o Henfil?

Henfil - Fradim #1 - 2°Edição pág 25

Já houvi gente dizer que desenho é coisa de criança. Ler quadrinhos e assistir desenho animado são atividades tipicamente infantis, no entanto, estes recursos foram e são muitas vezes utilizados como uma forma de humor adulta, uma forma suave e ao mesmo tempo contundente de se passar ideologia. 
Dentre os gênios que souberam utilizar deste recurso, posso citar japonês Shoji Kawamori, criador do anime Arjuna¹ e o argentino Quino, responsável pela incrível personagem Mafalda.

Henfil, ou, Henrique de Souza Filho é o gênio brasileiro do humor carregado de ideologia. Eu poderia utilizar minhas palavras para falar sobre o comprometimento ideológico deste artista, no entanto, utilizarei de suas próprias palavras:

"O meu maior propósito, enquanto jornalista do traço, era aguçar a veira crítica das pessoas com relação a este sistema que o capitalismo usa para escravizar a tudo e a todos."²

O lápis é uma arma

A vida  de Henfil (1944-1988) se confunde com a história da ditadura militar do país, lutar, para ele, não foi meramente uma escolha. Seus personagens não são frutos do acaso, e sim de situações reais, por isso, é que eles não nos fazem rir por rir, rimos de desespero, rimos de sarcasmo, rimos de ironia, rimos de compaixão. Lendo Fradim, rimos amargamente das piadas azedas de Baixim, o frade sádico, lendo a Graúna rimos de nossa impotência frente a um nordeste miserável o qual (agora, apesar da democracia) parece que não somos capazes de mudar. Lendo Ubaldo rimos de desespero, pois, podemos sentir na pele como durante a ditadura, achar que as coisas podiam ser melhores já era o suficiente para tornar um ser humano paranoico.

A ditadura acabou e infelizmente (ou felizmente) Henfil não viveu o suficiente para presenciar a falsa democracia atual, falsa democracia que ainda exige (ou pelo menos deveria exigir) o mesmo alto grau de comprometimento político da população, pois, agora é com o nosso aval que o nordeste sofre nas mãos de Sarney e é com nosso aval que a presidenta Dilma nega todos os pedidos de Reforma Agrária. Os problemas do país continuam os mesmos, o nosso comprometimento para com a mudança é que é cada vez menor. Talvez uma boa dose de Henfil nos sirva para despertar o que está adormecido!






Procure conhecer a obra de Henfil

Henfil - Fradim #1 - 2°Edição pág 35

Tenho certeza que não vai se arrepender!

Henfil, A volta da Graúna, p. 82-83


Quer saber mais?

Além da leitura dos quadrinhos recomendo também a leitura do livro:
Henfil, o humor subversivo - Marcio Malta

Notas:

1 - Valeu pela indicação, Taz! Valeu por assistir comigo, Jazz!
2 - Henfil, Fradim 13, p. 24

As Letras Vermelhas

Repudio as fontes de informação e notícia que escondem seu editorial, que não assumem sua ideologia. Sob a carapuça da neutralidade, os carrascos da grande mídia cortam cabeças e multidões são manipuladas. É por isso que o espaço "Letras Vermelhas" deixa claro, seu conteúdo tem por base a construção de uma sociedade igualitária.
As Letras são Vermelho Sangue, não aquele vermelho escuro do sangue coagulado e pegajoso, mas sim, o Vermelho Vivo que corre quente nas veias e o faz como se estivesse dizendo: Você está vivo e há muita coisa para fazer, sinta meu calor, você não tem sangue de barata, não haja como se tivesse.

O Autor

Quando abandonou o mundo universitário (fomentador de discussões, ponto de encontro para debates, lugar onde encontramos aqueles com que nos identificamos e lutamos juntos), mudou-se para uma cidade nova e caíu na rotina de trabalho, sentiu-se culpado. Culpado por perceber que havia se tornado um "ativista de sofá", longe de todos, restou-lhe o espaço virtual.
Foi então que percebeu a importância de ocupar este espaço. Devemos ocupar a internet como ocupam o Egito, como ocupam Wall Street, devemos lutar por este espaço como se luta pela Palestina.
Não! Ele não se conformou com o ativismo de sofá! Apenas reconheceu sua importância. Mesmo quando se reencontrar com as manisfestações e discussões, continuará aqui, mantendo firmes os muros virtuais vermelhos!

E.R.Saracino é Historiador e Professor

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