quinta-feira, 28 de abril de 2011

Al Sordo hay que Gritar

Tá caladinh@?
então BOTA PRA FORA:



Se você arrepiou 50 vezes durante o vídeo, é sinal que seu sangue não tá parado. Faça alguma coisa.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Quem tem boca vai a...

Mexicana que fez greve de fome para 'assistir' ao casamento de William e Kate é barrada pela Imigração britânica.
Seu nome é Estibaliz Chavez. Ela ficou 16 dias sem comer para assistir ao Casamento Real. Um Empresário se sensibilizou e pagou sua passagem; no entanto ela teve que voltar à Madrid porquê foi barrada pela imigração britânica, que alegava que ela não podia comprovar que tinha dinheiro para estadia em Londres.

Outras pessoas também apelaram para a Greve de Fome, mas certamente não foi por motivos tão "nobres". Vejamos alguns deles:

Guillermo Fariñas
 

 dissidente político do governo Comunista Castrista, apelou para Greve de Fome pela liberação de outros presos políticos. Alcançou 135 dias de Greve de Fome, e só parou porque a Igreja Católica interviu e conseguiu acelerar o processo de liberação de 52 presos políticos

Orlando Zapata

Considerado inimigo do governo Comunista Castrista, foi preso e então iniciou sua Greve de Fome, e veio a óbito por sua causa após 85 dias sem comer.


Opositor do governo Chavista, o produtor rural iniciou sua greve de fome de 8 meses (!) e foi mantido contra sua vontade num hospital militar. A filha dele, "Angela, disse em junho ao jornal "Folha de S. Paulo" que o pai recebera US$ 186 mil do governo em tratores e produtos agrícolas, mas devolvera tudo porque exigia que Caracas reconhecesse que o pagamento era uma indenização pelos danos e não 'benefícios' [...]. O caso de Brito se arrastava desde 2005 - nesse período ele fez oito greves de fome e cortou um dedo em frente às câmeras da TV em protesto".

Um iraniano e uma iraniana que ainda não consegui identificar literalmente costuraram suas bocas para anunciar Greve de Fome pedindo asilo ao governo grego e à ONU.











Thic Quang Duc

Década de 60, Vietnã do Sul. A maioria budista se sente oprimida pela minoria católica de burgueses afrancesados que dominam o país. A guerra do Vietnã imola toda uma nação. Durante uma passeata silenciosa de budistas no dia 11 de junho de 1963, um monge senta-se no chão sobre uma almofada azul, outros dois despejam combustível sobre ele e ele mesmo ateia-se fogo. Esse tipo de suicídio teve outros adeptos naquele mesmo país e fez a polícia local se equipar com extintores de incêncio. Foi a primeira guerra onde os EUA tiveram de se retirar. Não foi uma Greve de Fome, mas achei que seria interessante colocar aqui nessa lista.


De qualquer forma, a greve dela não ia durar muito... o casamento é daqui há alguns dias... eu acho.
detalhe para as princesas na parede...

Notas de e sobre o livro "O que é Alienação" de Wanderley Codo - por TAZ

Dias atrás consegui uma cópia do livro "O que é alienação", de Wanderley Codo. É a quarta edição publicada pela Editora Brasiliense, de 1987. Como é um daqueles livros da coleção Primeiros Passos, trata-se de uma leitura rápida e dinâmica, não aprofundada, de fácil compreensão, apesar do tema altamente complexo. A intenção do livro é de, basicamente, fazer-nos pensar no mau uso que fazemos da palavra alienação, na mesma linha de outras, como democracia... Separei algumas notas que achei interessante e que gostaria de compartilhar com vocês, mesmo não tratando de ALIENAÇÃO diretamente.

Lembro que isso não é uma resenha, não é um estudo, não é uma tese, e se pudesse chamar de alguma coisa, chamaria de uma boa conversa, ok?

"Por paradoxal que pareça, é a inteligência acumulada de cada trabalhador que promove a burrice do trabalhador [não pasmem! A idéia é bem contextualizada no livro, mas não é ela que importa]. Uma fragmentação do conhecimento, que permite uma acumulação fantástica desse conhecimento em pouquíssimas mãos e o fragmenta tanto, o divide tanto, que ninguém é dono dele. Cada peça da máquina que produz a Coca-Cola é resultado da acumulação de toda a história da humanidade, mas de forma fragmentada e alienada, ou seja, o conhecimento não pertence ao produtor dele mesmo. Alguém plantou a cana , outros a colheram, outros retiraram dela o sumo que produziu o açúcar, que foi transformado e que entra, junto com outros produtos que nós desconhecemos, na fórmula produzida pelos dois químicos para compor o xarope, que comporá a Coca-Cola. Também o mineiro retirou o minério, que foi transformado em ferro, que foi torneado, que produziu as máquinas. Nenhum operário que trabalhava nas minas de carvão ou de ferro tinha sequer a idéia de que estaria produzindo Coca-Cola, isto porque a posse é individual, os meios de produção estão nas mãos de apenas uma pessoa, enquanto todo o trabalho é coletivizado. Estamos, portanto, perante a contradição central do capitalismo e estamos perante o processo de produção do lucro, de mais-valia, já declinado anteriormente. É a alienação do homem em relação ao conhecimento que ele mesmo produz." - pp. 38-39
Desse fragmento acima, destaco (em negrito) duas frases que podem nos ajudar a pensar no impacto de nossas palavras & ações no mundo, em diversos tempos. Quero dizer, muitas vezes nossas ações causam reações que nos afetam ainda mais drasticamente. Penso num exemplo simples de um amigo que pixou um muro perto da sua casa e por causa disso o dono da casa colocou várias câmeras de vigilância - e uma inclusive captava também a porta da casa do pixador, o via saindo na madrugada... Mas também outras ações do tipo: ah, é só UMA coca, é só UM pedaço de carne, é só UM sapato de marca, etc... mas é mais uma força na roda da produção e do consumo. Precisamos ter consciência que nossas palavras e ações SIM, carregam poder, e que é necessário estar atento sobre como esse poder se dá e se aplica no conjunto da sociedade e de nossos interesses. Resumindo, ser RESPONSÁVEL pelas próprias palavras e ações, cuidando ao máximo para não ser INCOERENTE.

"[...] só é possível produzir lucro e o sistema continuar girando enquanto houver necessidades do produto. Ora, a necessidade do produto resolvida implica a eliminação do sistema.
Vejamos um exemplo - suponha uma determinada comunidade, composta de 1000 pessoas. Temos, portanto, uma necessidade de 1000 pares de sapato por ano. O capitalista contrata a mão-de-obra de 50 operários e começa a produzir 100 sapatos por mês. Enquanto houver pés descalços, o sistema roda normalmente. Quando as necessidades estiverem satisfeitas, o capitalista não tem mais o que fazer. Deverá fechar a fábrica ou fabricar sapatos praticamente sem lucro, porque eles não encontrariam saída no mercado e, portanto, cairia drasticamente o seu preço.
O que me parecem mais curioso e ao mesmo tempo revoltante, no sistema capitalista de produção, é isto: um sistema que não pode cumprir as finalidades a que veio não pode satisfazer às necessidades humanas ou, em outras palavras, vive da carência, se alimenta do não cumprimento dos seus próprios objetivos. Um capitalista joga fora o excesso de produção quando, por algum erro ou acidente da natureza, a produção ameaça atender às necessidades. [...] O capitalismo entra em crise de superprodução cíclica: enquanto faltar produtos o sistema está bem; quando eles existirem ocorrerá uma crise, embora as necessidades básicas estejam longe de serem satisfeitas". 42-43
Bom, apesar do negritado gritar aquilo que nos parece óbvio, é interessante ressaltar esse argumento que de tão óbvio passa batido. O capitalismo é desigualdade. Precisa de desigualdade, precisa do fosso entre ricos e pobres, e da enorme escadaria que se dá rumo ao fosso. Mas tem mais um detalhe que eu gostaria de ressaltar, com esse mesmo raciocínio, que é a semelhança dessa necessidade do capitalismo de NUNCA suprir as necessidades com a necessidade dos PARTIDOS POLÍTICOS de nunca resolverem os problemas para os quais foram prometidas soluções em campanha. Claro, um partido privilegia (pelo menos em tese) seu grupo eleitoral, justamente para cativá-lo ainda mais. No entanto, se resolve os problemas de seu grupo eleitoral, mas não de outros, os outros se unem e elegem outro partido depois. Ora, a lógica de um partido político está em obter poder, e nele, se manter. Me parece óbvio que NENHUM partido político está realmente interessado na resolução de todos os problemas - eles têem de deixar problemas para poderem se reeleitos. Todo o esforço de um partido político está na demonstração de que é CAPAZ de resolver problemas, mas não que necessariamente VÁ resolvê-los. Ou seja, a ação do partido é ETERNAMENTE prometer, cumprir decretaria sua desnecessariedade futura. O autor do texto infelizmente não faz essa associação tão latente e necessária, mas cá estamos nós refletindo sobre isso.

"[...] Ligando a televisão, ovcê verá uma propaganda do refrigerante, um jovem vestido com calça jeans, num trânsito engarrafado, se apossa sem permissão de ninguém de um piano, começa a cantar enquanto bebe um refrigerante, o ritmo da canção é moderno, a letra sugere liberdade, as pessoas aplaudem e o nosso herói deglute Coca-Cola, passa a impressão de uma opção radicalmente consciente; beber Coca-Cola aparece como produto e produtor de liberdade. É que a propaganda opera um milagre. Primeiro, esconde as relações que jazem no produto, portanto, esconde a escravidão do consumo e a representa como exercício de liberdade. Pela via da propaganda ocorre uma traição ao real significado e, ao mesmo tempo, uma denúncia da própria alienação que esconde.
[...] Você já deve ter visto, nos shopping centers, lojas especializadas em vender produtos com a marca Coca-Cola. Veja o que ocorre, a marca é vendida para você, a indústria paga a propaganda para que a marca se imprima, e você passa a pagar pela imposição que a marca lhe trouxe. Num primeiro momento, o consumo aliena você das relações de produção e consumo. Em um segundo momento, transforma essa alienação e escravidão em liberdade e fantasia. Terceiro, provoca em você a necessidade de comprar a fantasia que ela mesma criou". 48-49
Vejam bem, esse livro é de 1987 e desde lá já existiam lojas que vendiam produtos da marca de UM REFRIGERANTE!!! isso sim é pra se pasmar. Se qualquer maneira, é muito interessante a análise do autor, e esse apontamento de que PAGAMOS para utilizar a marca. Inclusive você, que reclama da moda das calças da Coca-Cola, mas bebe sua latinha sempre que disponível: o valor da propaganda está IMBUTIDO no valor da latinha, não tenha dúvidas. Você não veste Coca-Cola, mas patrocina quem veste. Parabéns.

"Ocorre que, desse ponto de vista, sexo é uma mercadoria muito particular. Lembremos do exemplo do consumo quando falávamos de Coca-Cola: ela cria uma necessidade e a satisfaz. A mercadoria satisfaz a necessidade que existe ou criou. Que tal se encontrarmos uma necessidade que não é satisfeita quando vendida? A pornografia, por exemplo. Uma privação básica da ordem biológica, apropriada pelo produtor do sexo, não é satisfeita, pelo contrário, e ampliada pela venda do produto. Isso parece uma loucura, mas é exatamente assim. Posso imaginar que o indivíduo, ao frequentar uma sala de cinema pornográfico, chamado eufemisticamente de 'sexo explícito' ou metaforicamente de 'erotismo', posso imaginar, dizia, que o consumidor está carente da mercadoria que procura, entra porque precisa de sexo. Ocorre que lá não tem sexo. O indivíduo tem à sua disposição fantasias, observa o ato sexual alheio, e isso provavelmente aumenta a sua necessidade de sexo, sai de lá mais carente do que entrou". - 60
O autor do livro fala muito de Coca-Cola e pornografia (poderia ser redundante...), e achei ótimo porque são os melhores exemplos possíveis que ele poderia ter usado para explicar alienação. Nesse trecho que separei, a frase "Ocorre que lá não tem sexo" se adapta à quase tudo que é fetichizado: ocorre que no C.A. apesar de representar os estudantes, muitas vezes ocorre que lá não estudantes, ocorre que no congresso de um partido, apesar de ter dezenas de representantes do povo, ocorre que lá não tem povo; ocorre que quando compramos Coca-Cola induzidos pela música sobre liberdade, ocorre que lá não tem liberdade, etc... As coisas NÃO ESTÃO LÁ nos produtos, e as pessoas que os consomem saem mais carentes do que quando entraram, com mais sede do que quando beberam, menos democráticas do que quando entraram na reunião do partido político...

"A busca do prazer me constrói duplamente, enquanto o meu prazer me torna mais parecido comigo mesmo e, depois, porque a busca me impele ao outro, promove o encontro, a cumplicidade. Quando as nossas fantasias são transformadas em mercadoria, elas nos destroem duplamente: inventam um outro homem dentro de mim (que não sou eu), porque recriam o meu desejo à minha revelia, um outro sexo infiltrado em meus instintos e, além disso, me condenam a viver em busca obcecada de um prazer que não existe, não tenho e não terei porque é, já de partida, ilusão". - 65
É isso aí (como no jargão coca-colístico dos anos 80): há um processo de produção de fantasias, de estandardização de fantasias, para que você nunca escape: há sempre o que consumir. Mesmo quando se sacia (momentaneamente) um desejo, há outra tentação ampliando sua necessidade de apaziguar mais sentidos. Fato é que os sentidos já estão apaziguados, o que se apazigua então - ou melhor, o que se pensa apaziguar - é um vazio emocional, uma sensação de isolamento, há a impressão de que o mundo ainda olha para as minhas necessidades, produz respostas aos meus desejos, mesmo que no fundo tais desejos sequer sejam meus, pois me foram de certa forma imbutidos.

"Alienação e inconsciente. Freud garante que trazemos em nós um outro que nos escapa, do qual somos porta-vozes involuntários. Mas o que será o inconsciente? O homem privado de sua existência pela voz do outro ou o ser social do homem, castrado pelo animal que a alienação reinventa?" - 68
Essa é uma dúvida que vou deixar aí, para, quem sabe, gerar uma discussão!

"Toda espécie animal sobrevive à medida que consegue adaptar-se ao meio, transformá-lo à sua imagem e semelhança e ser transformado por ele. Ocorre que o meio ambiente do homem é o próprio homem. Somos um ser social, portanto nossa sobrevivência depende da possibilidade de transformar o outro e de ser transformado por ele, só assim pode-se entender o grau de energia que uma criança, por exemplo, gasta para controlar o comportamento de sua mãe, mesmo às vezes com riscos da própria fisiologia, quando, por exemplo, interrompe a alimentação para ganhar mais carinho e atenção. Estamos, portanto, condenados a realizar a nossa individualidade pela via do outro, somos o que somos, na medida em que somos o outro. A luta do ser humano através da história poderia ser definida como a luta pela apropriação coletiva do próprio destino ou pela realização individual e coletiva do homem, o que implica necessariamente um jogo de apropriação e desapropriação desse e do outro". 86-87
Nesse fragmento eu fiquei pensando em mentalidades... num mundo capitalista, onde a competição, a atomização e o egoísmo são necessidades MANTENEDORAS tanto da vida em si quanto do status quo, o que passamos para o outro e o que demandamos dele são esses mesmos sentimentos, de egoísmo absoluto, da razão instrumental-utilitarista, passamos a tratar e achar natural sermos tratados como meios para se obeter coisas, poder... vide nossa "democracia". Mas imaginei também em outro mundo possível, seguindo os passos de uma doutrina anarquista que já no começo do século apontava para a necessidade de vencer os jogos de poder impostos pelo cotidiano (leituras de Fabbri, Malatesta e outros), e que agora na contemporaneidade ganha grande reflexo com pensadores como Deleuze, Foucault e outros. Qual o impacto de uma renovação de si em busca de um Eu mais solidário para com o Outro. Qual o impacto de nossas ações PENSADAS como impactantes? Qual o interesse que eu posso ter num mundo novo se meu Eu não se propõe a ser um Ser Humano novo? O que eu quero dizer é que, se somos seres sociais, se nos formamos pela intersecção entre o Eu e o Outro, qual é a qualidade das ações que eu proponho ao outro e que eu passo a demandar dele a partir disso? Eu busco um mundo de solidariedade, de justiça, de igualdade na diversidade, de liberdade - mesmo sabendo da dificuldade absurda de se equilibrar alguns desses elementos - então, o mínimo que eu posso fazer e aceitar o peso de um mundo que não é o que eu desejo, mas impor minha "leveza" de volta, pesando sobre o mundo aquilo que eu POSSO ser.

Bom, é isso, não gostaria de ter me alongado tanto, mas o texto é muito interessante, vale a pena ler. Não concordo com todas as idéias do autor, mas não poderia jamais negar o valor crítico de um texto como o dele. Espero que o texto e as idéias que imbuti nele (hehe) suscitem algum comentário, ou pelo menos, algum pensamento inovador... Abxxx a tod@s.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Eike Batista - face do desenvolvimento brasileiro

Essa é uma notícia sobre como detentores de poder/dinheiro usa e abusa da burocracia desorganizada de um país capitalista-pobre como o Brasil.

Extraída do Yahoo notícias em 25.04.11.

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O que você acha da notícia, como um todo?
LLX dispensa operários de porto no RJ devido a bloqueio

Por Daniela Amorim
Agência Estado – seg, 25 de abr de 2011 11:53 
A LLX, empresa de logística do grupo EBX, do empresário Eike Batista, informou hoje que orientou os operários que trabalham nas obras do Porto do Açu, no norte do Estado do Rio de Janeiro, a permanecerem em casa até o fim do protesto de produtores rurais, que bloqueiam desde cedo as duas estradas de acesso. Nenhum funcionário ou caminhão da LLX seguiu para o canteiro de obras hoje, por questão de segurança, segundo a empresa.
Entre 40 e 50 proprietários rurais do distrito de Cajueiro, no município de São João da Barra, participam de uma manifestação contra a desapropriação de terras na região do porto para a construção de um distrito industrial. Eles alegam não terem sido avisados com antecedência sobre a desapropriação e contestam o valor das indenizações que serão pagas pelo Estado.

Cerca de dois mil funcionários da LLX foram impedidos de trabalhar pelo protesto, mas a companhia afirma que não haverá prejuízo por causa da paralisação dos trabalhos, já que a obra do Porto do Açu estaria adiantada.

A LLX afirma manter um canal aberto para diálogo com a população local, por meio de um escritório em São João da Barra, mas entende que a negociação com os manifestantes deva ser conduzida pela Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio de Janeiro (Codin), por tratar-se de desapropriação de terras.

Segundo a Codin, que coordena o processo, todos os proprietários foram notificados em agosto do ano passado e convidados a comparecer à sede de São João da Barra para esclarecimentos sobre as desocupações. Até hoje, 80% dos convocados já compareceram para ouvir esclarecimentos, de acordo com o órgão.

A primeira etapa das desapropriações atinge terras de cultivo de caju, abacaxi e quiabo. Na próxima etapa, ainda sem data definida, 11 famílias terão de deixar suas casas, mas a Codin afirma que serão reassentadas.

sábado, 23 de abril de 2011

Carta a um irmão em liberdade

E aí meu irmão, ta tudo bem?
Por aqui tudo anda aos tropeços
Sabe como é, essa tal de realidade é dura
E não só a que me cerca o dia inteiro
Mas também daquela interna e dolorosa
Essa angústia necessária pra viver.


No mais, lembra daquela boa senhora,
A Dialética, uma mulher de meia-idade,
Companhia dos nossos cafés noturnos lá no posto?
Então, parece que ela tem fama por aqui.
Os tais companheiros dizem gostar muito dela.
Falam sobre ela algumas vezes, quando se reúnem
Que ela pode fazer isso ou aquilo onde passa.


Na verdade, ela realmente tem nos visitado,
Mas todas as poucas vezes em que a vejo,
Em nenhuma é na companhia deles.
Bom, você sabe como é o ser humano
Uma pessoa muito ilustre como essa senhorinha
É muito bom dizer que dela é um conhecido
Ou que ela surge como alguém sempre frequente
Seja em atos, reuniões ou rodas de discursinhos


Enfim, um dia me confundiram com o Neoliberal
Acredita? Você sabe que não suporto esse cara
É só falar de liberdade e consciência
E os companheiros sentem um leve desconforto
Parece que pra eles não importa mais ser livre
Somente alienado, mas com os valores certos


Te falo disso meu amigo, pois se uma pessoa como eu
Já é pra eles semelhante àquele estranho
Esteja bem preparado, pois tem uma outra senhora,
Essa sim da qual sempre retomam, e parece ser impetuosa.
Revolução o nome dela, dizem que uma dia ela chega
Deve vir de muito longe, pois pelo que me parece,
Já faz mais de um século que ela está na estrada.


A filha mais velha dela, a Vanguarda,
Até foi ver se a mãe não se perdeu pelo caminho.
Eu fico imaginando como será a senhora Revolução
Se ela for bem parecida com a filha, estamos mortos.
Nunca vi alguém tão convencida quanto essa tal Vanguarda.
Acha que sabe exatamente o que é melhor para as pessoas,
Que elas não sabem nem cruzar a rua sem pegar na sua mão.


Nossa, só agora, te escrevendo tudo isso,
Percebi o porquê da boa Dialética não andar com a galera.
Você acha mesmo que a Vanguarda iria se sentir bem com ela?
Mas nunca!
Ela não é boba, sabe que a Dialética é sábia, simpática e atraente,
Jamais aceitaria alguém que roubasse sua atenção


Bom, não vou me prolongar, marquei um café com a Dialética.
Dentro em breve lhe escrevo novamente contando mais fofocas.
Em um dos nossos rápidos encontros, ela diz que tem visto você.
Nas palavras dela: tá corado aquele garotinho!
Pelo jeito você tá fazendo bom uso das receitas que ela nos passou
Aqui to tentando fazer elas do jeito certo, mas tem faltado fermento
Se cuida, e escreve seu maldito!

Resposta a um irmão em liberdade 25, abril, 2011 - 10.57am

Meu irmão, há quanto tempo
Há muito que esperava essa carta
Pensei mesmo ter sido censurada mas
Por sorte estamos em outros tempos;
Infelizmente não aproveitamos
As “liberdades” do momento.

Pois meu irmão, aqui quase não ouço falar da Sra. Dialética,
Só tenho lha percebido pelos cantos
De um ou outro aedo
Mas como causa susto e provoca medo
Na sequencia vem um nome santo
Para excomungar o pecado da falta de ética.

Por quê aqui também se fala muito da dona Revolução,
Mas aqui quem fala muito dela é sua filha bastarda
Que chama a si mesma de Vã-guarda
Muito amiga da Intolerância e do Segredo
Para quem sempre a justiça para todos falha
Assim que suas ações se enquadram em uma só Reação.

Não é a toa que te confundem com o famigerado Neoliberal
qualquer palavra que pareça com “liberdade”
já lhes é semelhante à origem de todo mal
Esses camaradas só o são, na verdade,
até que obtenham o poder real.
o desejo de poder é a fonte da inimizade
e é a inimizade a fonte de parte do mal.

Como velho irmão que de longe aconselha
que autonomia é tudo, sei que vai se lembrar
que arquiteto do mundo é quem as trevas clareia
portanto não se deixe levar
por qualquer chama que no fim é centelha
sábio daquele que
mesmo sem fogo incendeia as candeias

No mais meu irmão, aproveito a falta braços
para remendar o que me falta de entendimento:
não quero mais cometer o erro crasso
de achar que a todos bastam o sentimento
a afeição e o vislumbre da liberdade
por si mesmos movimentem o pensamento
com a língua afiada e o coração de manteiga faço
estruturas de aço prum mundo feito daquilo que penso

Não vou me alongar muito nessa carta
sei que estás na correria
- parece que o mundo pra quem quer mudá-lo
se pudesse ao inverso giraria!
De qualquer forma deixo a ti um abraço
de quem muito te quer em companhia
de um “fabuloso capuccino de algas”
- agora a censura pensa que falamos por enigma!

ps: Se falta fermento, tenho pólvora - e cafeína!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Finalmente! Mais segurança para o povo!

 Estava eu almoçando agora há pouco em um restaurante quando vi na TV a notícia de que um novo tipo de spray foi lançado. Um tal de Spray de ACDC, e não estamos falando da banda de rock mas sim de um spray imobilizador. Isso mesmo, uma espécie de dispositivo de defesa pessoal parecido com o famoso spray de pimenta, já usado há anos. 

A idéia é que seja algo menos agressivo do que o famigerado spray de pimenta ou do que os choques usados pelos policiais. Existem variações do spray de ACDC em várias cores, cada uma com sua função específica.  Um deles emite um cheiro forte fazendo com que o fugitivo exale um odor desagradável e os demais cidadãos saibam que se trata de um fugitivo. Há outro que brilha no escuro para casos de perseguições noturnas e é claro, o colante, que impede que o infeliz se mova com liberdade. O removedor do spray se encontra no poder da polícia ou do dono da lata.

 Quero apenas dizer que me sinto muito mais seguro, calmo e tranqüilo em saber que há um novo produto no mundo que imobiliza os malfeitores e fora-da-lei que ousam perturbar a paz do povo. A NOSSA Paz.

 Não teria sido mais útil uma medida, nem que fosse paliativa, de acabar com a desigualdade existente em nossa sociedade? Não teria sido mais útil um avanço médico-científico que combatesse a AIDS ou o Câncer? Não teria sido muitíssimo mais útil uma forma de viabilizar o fim dos preconceitos que nos seguem até os dias de hoje?! 

  Sinto-me mais seguro, calmo e tranqüilo agora em saber que há um novo produto enriquecendo a indústria de armas não-letais, algo que pode ser usado sem medo pelas autoridades a fim de acabar com manifestações de loucura e vandalismo das massas.
                                                  Sinto-me bem mais seguro, calmo e tranqüilo.

Jack.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Coletivo MISÉRIA - e um aparte sobre nosso/a KRISIS.

Olá para todos e todas, saludos!

Tomei contato com um ZINE muito interessante, dum pessoal de campinas, e que me surpreendeu pela capacidade crítica muito bem afinada de seus membros - o que deveria ser óbvio, pois constitui um coletivo, mas que não se reflete em qualquer "coletivo" por aí.

Hoje fui ao blog deles e senti grande afinidade com as idéias da REVISTA MISÉRIA (clique aqui). Vale a pena visitar, comentar, divulgar... acho que nossas propostas são quase as mesmas... Aliás, quais são nossas propostas mesmo?!

ETERNO RETORNO:

?Estará o KRISIS em Crise?!

Bien, o que estamos fazendo?! o BLOG está parado, não estamos publicando, comentando, nem sequer esboçando REAÇÃO (é só clicar num quadradinho!). Se esse blog é a cara do coletivo para o mundo, é bom que o mundo percebe logo que não estamos muito interessados em nossa cara, pq NAO ESTAMOS AQUI.
Esbarremos na questão do tempo, da falta de tempo para ler, para escrever, para opinar... bom... estivemos de férias e fizemos pouco NO BLOG. o blog foi desenvolvido para ser um lugar para discutirmos e expormos nossas idéias, mas não estou vendo isso aqui. Essa ferramente está nos sendo útil? vale a pena mantê-la? ou vamos nos enfurnar numa lista de emails, grupo, e em nossos "núcleos de afinidade" (e agora estou usando o termo no seu sentido pejorativo!). Estamos TOD@S atolados de afazeres, mas uma das propostas iniciais era a de que Estar no KRISIS era sinônimo de PARTICIPAR DO KRISIS. KRISIS ficou praticamente inativo por mais de dois meses, cabô o carnaval, agora é hora da verdade: ou tomamos a frente do coletivo (frente=face=blog também) ou abandonamos essa ferramenta e ficamos eternamente à espera de TEMPO, TEMPO PARA DAR NOSSA HUMILDE E SINCERA OPINIÃO NESSA SOCIEDADE QUE NOS DÁ TANTO OUVIDO, NESSA SOCIEDADE TÃO DEMOCRÁTICA, ONDE ABUSARÍAMOS DE NOSSA LIBERDADE DE EXPRESSÃO SE PUDÉSSEMOS - ou não?

Sigamos, sim, mas de pé.

Abxxx. e FORÇA. MAS FORÇA MESMO, energia, garra, consciência, foco. Espero que "FORÇA" não se torne um novo modo de se dizer "tchau, camaradas, acabei de escrever".
TAZ

quinta-feira, 14 de abril de 2011

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Declaração de princípios de um intelectual espanhol

http://www.nodo50.org/Declaracion-de-principios-de-un.html
e porque não dizer, dos jovens intelectuais brasileiros, oriundos das mais bem representadas universidades públicas deste Brasil?

CHAMADA PARA FRENTE DE AFINIDADE - maio/2011

CHAMADA PARA FRENTE DE AFINIDADE:

O QUÊ: ~ Discussão, confecção/montagem de zines libertários, de voz ANARKISTA.
POR QUÊ: ~ Pensando que panfletagem, comunicação, imprensa libertária (além é claro, da própria postura do anarkista) são uns dos poucos meios que os anarkistas têm para conscientizar as pessoas das condições em que vivem, proponho a confecção de zines de 6 a 8 páginas (formato "revistinha" - A4 dobrada ao meio), de entonação anarkista sobre os seguintes temas:
  • Condição da Mulher;
  • Condição do trabalhador (voltado principalmente para aqueles do Setor de Serviços)
  • Condição Humana;
  • Condição da Criança (voltado para escolinhas e creches)
  • Condição Animal "pet";
  • Condição Animal "produção alimentar"
  • Condição religiosa;
  • Condição do Estudante (voltados principalmente para ensino médio e cursinhos)

QUANDO: ~Proponho o prazo limite de 4 meses a partir de maio: 2 meses para a troca/leitura de textos (flexibilidade de troca de grupos); 1 mês para escrita e editoração; 1 mês para produção e 1º fase de distribuição (maciça).
ONDE: ~ Fica a critério das sub-frentes de afinidade que surgirem.


O maior interesse nesse primeiro momento é a troca e leitura de textos. Seria interessante que as pessoas não se limitassem aos "temas" que escolheu mas que pudessem ler o máximo de textos possíveis. É óbvio que não trocaremos calhamaços de textos ou livros inteiros, mas que cada um conte com a boa vontade do outro de trocar informações sobre os textos TAMBÉM.


Gostaria de lembrar que não haverá coordenação vertical do projeto, TODOS ficarão responsáveis pelo andamento do projeto, questionando os conteúdos, problematizando, etc. Reitero: NÃO HAVERÁ COORDENAÇÃO: é um trabalho HORIZONTAL: só entre se tiver RESPONSABILIDADE COM O PROJETO.


Gostaria de lembrar ainda que eu, TAZ, não tenho acesso "livre" à internet, or-kut, twi-ter, etc. Só poderei me conectar ao grupo KRISIS de Franca e o de Campinas através do email do Coletivo e principalmente pelo meu email particular, que vocês conhecem.


Se você conhece alguém que se identificaria com a proposta e que principalmente tenha responsabilidade para atuar no projeto, seria interessante engajá-lo. No entanto, essa idéia mesma fica à critério dos núcleos do Krisis nas referidas cidades.


Temáticas, idéias, prazos, são flexíveis, entrem em contato para mexermos na idéia. Eu, TAZ, fico responsável pela montagem do projeto a ser exposto no site no dia 1º de Maio de 2011, o qual não será mais tão flexível.


No mais, é isso. Dúvidas, postem nos comentários ou mandem-me emails.


ABXXX, e como sempre FORÇA!

Meu pai morreu - Léo Lama, filho de Plínio Marcos

Dia 19 de novembro é aniversário da morte do meu pai, escrevi este texto no dia em que ele morreu:19 de novembro de 99.

Meu pai morreu. Todo pai morre. Agora estou aqui pensando: o que foi que meu pai me deixou? Apartamento?Não. Carro?Nem uma bicicleta. Dinheiro? Ele não conseguia pagar nem as próprias contas. Mas pagava a dos filhos. Roupas? Só um chinelo velho, mas meu pé é maior. Sem testamento, sem herança, sem nada? As peças. As peças de teatro? De quem são as peças de teatro? Meu pai era escritor. Escritor de teatro. Teatro? Teatro dá dinheiro. Tem gente que escreve peça pra ganhar dinheiro. Não, meu pai não. Não ganhou muito dinheiro com teatro. O que ganhou, gastou. Deu dinheiro pra muita gente. Meu pai não era um bom administrador. Era um “maldito”, diziam, um “marginal”, mas não era bandido. Por que ele era maldito, afinal? Será que não pensava nos filhos? Por que não escreveu peça pra ganhar dinheiro? “Ninguém tem direito de pedir a um artista que não seja subversivo.”. Meu pai escrevia sobre puta e cigano sem dente. Puta, cigano sem dente e cafetão. Puta, cigano sem dente, cafetão, presidiários, desempregados e fudidos. Puta e cigano sem dente? Puta, cigano sem dente e cafetão é chato, porra! Puta, cigano sem dente e presidiários não dava dinheiro. Puta, cigano sem dente e desempregados não tinha “patrocínio”. Mas eu queria tênis americano, eu queria camisa Lacoste, camisa Hang Ten.

Meu pai tinha que ganhar dinheiro. Por que ele insistia em escrever peças sobre puta, cigano sem dente, cafetão e presidiários? Ele insistia. Puta, cigano sem dente, cafetão, presidiários, desempregados e fudidos. E o ator e Jesus Cristo e nada de “comédia comercial”. Mas eu queria o meu “All Star”, eu queria ter todos os discos dos Beatles. “Pai, me dá dinheiro pra comprar uma guitarra!” E eu tive, eu tive a tal guitarra, eu comprei todos os discos dos Beatles com o dinheiro dele (depois tive que comprar tudo de novo em CD com o meu dinheiro e agora dá pra baixar de graça na internet). Calça boca fina, camisa Hang Ten. Onde ele arrumava dinheiro? Onde ele arrumava dinheiro pra me comprar tênis “All Star”? Ele achava que isso era “lixo americano”. Ele achava que essa merda importada só servia pra aumentar a nossa alienação. Meu pai era generoso. Ele não ia deixar de me dar uma coisa que eu queria, só porque ele achava que o que eu queria era imposto pela sociedade de consumo. Ele tentava me orientar, mas respeitava minha opinião de adolescente alienado. Onde ele arrumava dinheiro?

Era época de ditadura. Escrever sobre puta, cigano sem dente, cafetão e presidiários, incomodava os “poderosos”. Porra, ainda mais essa! Já escreve sobre coisa que não dá dinheiro, mas além de não dar dinheiro, ainda é proibido? “Pai, me dá dinheiro pra comprar disco do Bob Dylan!”.

Meu pai fez novela, fez Beto Rockfeller. Mas Beto Rockfeller não conta, Beto Rockfeller era A novela, tinha a cara dele, era revolucionária. Ele fazia o Vitório, o melhor amigo do Beto. Ele ganhou um dinheiro, me comprou um tênis, uma guitarra, um... Mas A novela era na Tupi. A Tupi faliu. Meu pai foi fazer novela na Rede Globo: “Bandeira 2”. Mas a Globo é no Rio, o Rio tem praia, ele cabulava as gravações e ia pra praia: “Novela é chato pra caralho, porra! O direito da gente coçar o saco é sagrado.”, ele dizia. Ele ia pra praia e lá ficava indignado porque naquela época a Globo não punha negros nas novelas e quando punha era nos papéis de escravo ou mordomo. Meu pai escreveu no jornal “A Última Hora” do Samuel Wainer, onde ele trabalhava, que a Globo botou a Sônia Braga dois meses tomando sol pra ficar escura, em vez de chamar uma mulata pra fazer “Gabriela”. A Globo não gostou. Os “poderosos” da Rede Globo não gostaram. Fizeram ameaças, juraram de morte. Em fim, a Globo não dava mais. Quando ele tava por lá, ele bem que quis escrever novela. Afinal, eu queria dinheiro pra comprar tênis, disco, guitarra. Mas novela de puta, cafetão e cigano sem dente? Não, novela de puta, cafetão e cigano sem dente não dá. Se fosse cigano com dente, musculoso e mau ator, aí dava. Agora, cigano sem dente, pobre e fudido, não dá. Então não dá. “Na televisão brasileira, artista estrangeiro morto trabalha mais do que artista brasileiro vivo.” Tudo bem, não podia fazer peça de puta porque a ditadura não gostava, não podia novela de cigano pobre, fudido e sem dente porque a T.V. não queria. Então o que que podia? Não podia nem chamar a Rede Globo de racista, nem nada. A sinopse que ele fez pra uma novela quando finalmente a Globo chamou ele, era de uma tribo de ciganos que estupravam as filhas dos empresários e...bem, não aprovaram. E as portas iam se fechando. E a ditadura ali, descendo o cassete. E eu queria o meu tênis “All Star”! “Pai, porra, pai, eu quero dinheiro pra comprar time de botão!” Mas enquanto os “poderosos” iam dizendo: Não! Não! Não! Ele ia ganhando o respeito dos humildes de coração, um “povo que berra da geral sem nunca influir no resultado”, um povo fudido, os marginais, as putas, os ciganos sem dente, os presidiários, um povo que não aparecia na T.V. “Pobre na Rede Globo almoça e janta todo dia”. Pobre na Rede Globo tem dente, favela na Rede Globo não tem rato. Esse povo não era o povo dele. O povo dele era entre outros, os sambistas, não esses de agora, de terno Armani, cercados de loiras recauchutadas, mas, os sambistas das escolas de samba de São Paulo. Os sambistas marginalizados, os que nunca gravaram CD. O Zeca da Casa Verde, o Talismã, o Jangada, o Toniquinho Batuqueiro, o Geraldo Filme, enfim, os que morrem na merda. “Silêncio, o sambista está dormindo, ele foi, mas foi sorrindo, a notícia chegou quando anoiteceu...”.

Então a solução era fazer show com os sambistas. Meu pai contava histórias e os sambistas cantavam suas músicas. Mas os sambistas eram crioulos. Negros? Negro não podia. Em plena ditadura, Plino Marcos e “a negrada”? Que papo é esse? Poder, podia, mas ninguém queria ver. “A burguesia não me quer”, ele dizia. Não podia peça de puta e novela de cigano sem dente pobre e fudido, não podia dizer que a Globo era racista e ninguém queria ver show com “a negrada”. Então o que que podia? “Pai, me dá dinheiro pra comprar figurinha do álbum Brasil Novo!”

A ditadura quando eu tinha 7 anos tava em todo lugar, em cada esquina, no meio de cada casal que fazia “amor com medo”, nos porões do Doicodi e nas torturas atrozes que muitos sofriam e eu lá: “Pai, me leva na Expoex, pai, me leva na Expoex! A Expoex é a exposição do exército! Eu quero ver os soldados, pai! Eu quero ver os tanques!” E ele me levava. Senão eu chorava. Eu chorava se eu fosse censurado e não pudesse ver a Expoex.

Quando eu tinha uns 12, 13 anos, lá estava o ônibus da escola pronto pra partir pra Porto Seguro com todos os meus amiguinhos dentro e os pais, do lado de fora, dando tchauzinho. E um amiguinho meu perguntou: “Quem é seu pai?” Eu não tive dúvida: “Meu pai é aquele!” E o meu amiguinho: “Aquele de terno e gravata? Aquele que tá conversando com o meu pai?” E eu: “É, aquele.” O meu amiguinho gritou: “Pai, esse aí é o pai do Leo!” E a professora ouviu. Não, meu pai não era aquele de terno e gravata. Meu pai era outro. Era o que todo mundo tava chamando de mendigo. Meu pai era aquele de macacão e chinelo! Gordo de macacão e chinelo! “O pai do Leo é mendigo, o pai do Leo é mendigo!” Afinal, quem trabalha tem que usar terno e gravata. Naquela época, um moleque de 12, 13 anos, era um tapado. Ou isso era característica minha? “Pai, por que você não trabalha? Pai, por que você dorme até meio dia? Pai, por que o pai do Paulinho tem carro e você não? Por que você chega de madrugada em casa? Pai, por que você anda de macacão e chinelo? Pai, me dá dinheiro pra comprar...” E o meu pai me dava dinheiro. Eu estudava em escola de “burguês”. Eu estudei nas “melhores escolas”. E olha que o meu pai odiava escola. “A cultura nas mãos dos poderosos constrange mais do que as armas; por isso, a arte e o ensino oficiais são sempre sufocantes”, ele dizia. Ele saiu da escola na 4ª série do primário. Ele era canhoto. Na escola, as professoras o obrigavam a escrever com a mão direita. Ele fugiu da escola, ele sempre foi da esquerda. Era chamado de analfabeto. Com 21 anos escreveu “Barrela!”. “Me chamavam de analfabeto, como se isso fosse privilégio meu, neste país.” Meu avô queria que ele trabalhasse no Banco do Brasil, mas ele queria é subir num banco no meio da praça e fazer números de palhaço. A família chegou até a pensar que ele fosse débil mental. Meu pai foi pro circo. Ele amava o circo. Foi ser palhaço de circo. Era o palhaço Frajola. A escola dele era o circo, a minha era escola de “burguês”. Mas como ele pagava a minha escola?

Foi preso, foi solto, ameaçado, escrevia em jornais e revistas, quase todos que existiam. Foi despedido de todos. A censura não queria meu pai escrevendo em lugar nenhum. O que fazer? Sair do país? Ele não falava direito nem o português. O que fazer? “Pai, me dá dinheiro pra comprar uma calça Soft Machine!”.

Uma vez o meu pai tava com uma dívida muito grande, tava com dificuldade de pagar as prestações de um apartamento que ele comprou pra gente. Daí um belo dia a Ford ligou pra ele, convidando pra fazer um comercial. Era uma puta grana, dava pra pagar as dívidas e ficar bem tranqüilo por uns tempos. Meu pai não fazia comercial.

Foi vender livro na rua. Nas portas dos teatros, nas portas das faculdades, nos bares. Foi vender livro na porta de teatros aonde se apresentavam artistas piores do que ele. Ele mesmo editava os livros, ele mesmo ia vender. E podia? Não. Não podia. Várias vezes ele foi expulso pelo “rapa” como um camelô comum. E ele chorava? “Perseguido, o caralho! Eu não sou nenhum mosca-morta. Eu fiz por merecer. Fui uma pessoa que aproveitou bem a fama. Eu apedrejei carro de governador, quebrei vidraça de Banco. Foi uma farra. Não teve mau tempo.” Tinha. Tinha mau tempo, mas ele não reclamava, eu nunca ouvi o meu pai reclamando da vida. Eu nunca ouvi o cara dizer que a vida tava difícil, ou que era “foda”. Não. Ele só reclamava das injustiças. Ele berrava contra as injustiças, os preconceitos, a apatia. Meu pai é o Plínio Marcos, porra! Bela merda, tem gente que nunca ouviu falar. Pra muitos era só um fudido que não deu certo na vida, andando feito mendigo pelo centro da cidade. Já morreu. Não era melhor do que ninguém. (Não?)

“Tudo se consegue com esforço; não se chega a lugar nenhum sem caminhar.”

Com 15 anos eu quis sair da escola. Ele disse: “Sai logo dessa merda, eu te sustento até você encontrar sua vocação!” Eu saí, eu saí daquela merda na metade do 1º colegial. Acho que qualquer ser humano com o mínimo de sensibilidade, sabe: o ensino do jeito que é, faz mal pra saúde.

Eu devia ter uns 17 anos, era de madrugada. Eu morava com ele. Eu tava na mesa da sala com o violão, triste, querendo encontrar a minha vocação, sem saber o que dizer, inibido, pensando em todos os artistas que eram muito melhores do que eu. Meu pai levantou pra tomar água, me viu ali, não disse nada. Foi até o escritório, voltou com um livro e leu um poema pra mim. “O corvo” do Edgar Allan Poe. Não disse nada, só leu a poesia. Não foi o conteúdo, foi o tom da voz dele, aquela voz doce que ele tinha. Ele declamava e eu ouvia como se ele me pegasse no colo. Foi dormir e me deixou ali, ouvindo o corvo dizer: “para sempre!”. Eu virei escritor, com 21 anos escrevi “Dores de Amores”. Meu pai era um incentivador, idolatrava os filhos. Queria ser mergulhador só porque o Kiko, meu irmão, é. A Aninha, minha irmã, era tudo pra ele. Eu fiz vários shows com ele, pelas faculdades, pelos teatros, pelos bares. Ele contava histórias e eu tocava violão. Meu pai era generoso, violento, essencial, amava, amava tanto as pessoas que chegava mesmo a odiá-las. Lutava, berrava e me acordava. Meu pai não me deixou apartamento, carro, dinheiro, bicicleta. Nem o chinelo dele me serve. Eu tive e tenho que ganhar o meu próprio dinheiro. Até hoje, muito pouca gente quer montar as suas peças e muito pouca gente quer assistir. Meu pai já não precisa mais vender livro na rua, pra quem não quer comprar, ou pra quem compra só pra “ajudar”. O que eu mais queria é que ele me ouvisse agora: “Pai, você não me deixou nada que se possa enxergar. Nem carro, nem apartamento, nem bicicleta, nem chinelo. Me deixou a sua indignação, um pouco do seu temperamento, a lembrança de ver você acordando todo dia com uma puta força de vontade, com uma puta vontade de viver, sempre alegre, sempre fazendo piada das próprias desgraças, sempre dando tudo que ganhava pros filhos, sem nunca acumular porra nenhuma.” E se ele me escutasse ele diria, com um sorriso malandro sem dentes, segurando as lágrimas: “Ê, Leo Lama!” Meu pai não sabia receber elogios. Mas se ele me ouvisse agora, eu diria:

Pai, eu preciso te contar, no seu velório foi muita gente, pai. No seu velório, estiveram os maiores artistas do país. Médicos, políticos, advogados, empresários, fãs, gente do povo, crianças e os sambistas. Os sambistas cantaram sambas em sua homenagem, pai. Suas mulheres, seus amigos, seus inimigos, todos nós, todos nós te aplaudimos quando o seu caixão foi colocado em cima do carro de bombeiro. Eu tava segurando uma aba, o Kiko outra. Você foi cremado, pai. Seus amigos fizeram discursos emocionados, disseram: “Plínio Marcos, um grito de liberdade!” Nós jogamos suas cinzas no mar de Santos. Na ponta da praia, onde você passou sua infância. O Jabaquara, seu time, ficou na porta do pequeno estádio, uniformizado, com a mão no coração, vendo o cortejo passar. O povo na areia batia no surdo e entoava um canto mudo no crepúsculo santista e nós no barco deixávamos você escorrer pelos nossos dedos como se você nem tivesse existido. Eu ainda quis te achar no meio do mar, mas de repente já era só o mar. E você foi, como todo mundo vai.

É isso aí, pai: tanta gente te amava. Você sabia? Acho que ninguém te amou tanto como a minha mãe. O amor dela ecoa em mim.

Mas, e eu, pai? E eu? Será que eu vou ter a mesma fibra que você? Eu não gosto de viver como você gostava. Eu não tenho a sua coragem. “A poesia, a magia, a arte, as grandes sabedorias não podem habitar corações medrosos.” Eu acho que eu vou me vender, pai, eu acho que eu já sou um vendido. Eu só queria ser essencial, essencial como você. É difícil. Eu reclamo. A vida tá uma bosta! Tá difícil de encontrar pessoas essenciais, pai. As pessoas só falam e pensam no que é supérfluo. Eu não tenho assunto. Eu me sinto sozinho. Eu não sei sobre o que escrever. O mundo tá se destruindo, tem muita gente fudida, tem muitas festas e muita fome. Que indecência, pai, que vergonha que eu sinto desse tempo que eu vivo. Eu sei que você não tem saco pra choramingo, pai, mas me deixa desabafar, pai, só hoje, me deixa te falar sobre o sonho dessa gente, você sabe, essa gente, os “homens-pregos”, fixos no mesmo lugar. Essa gente quer ter carro, pai, casa com piscina, essa gente quer ser rica e famosa, essa gente quer ser musculosa e quer ter bunda, essa gente diz que acredita em Deus e fode ele, essa gente não quer ser essencial, pai, essa gente... essa é a minha gente, pai, às vezes eu me olho no espelho e me acho parecido com essa gente. Me perdoa.



Um beijo do seu filho, Nado, que ainda usa o nome artístico que a gente inventou juntos: Leo Lama.
 
[retirado de http://www.leolama.blogspot.com/]

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Se nossos olhos fossem espelhos, Ai de nós...

Estaríamos escrevendo nossas próprias biografias... mas teríamos orgulho delas?


Na sociedade do espetáculo, somos levados a acreditar que podemos ter muitas vidas dentro de uma só. A cada cinco anos posso mudar de pele. A cada ano decido que tipo de professor quero ser, que tipo de filho, que tipo de mãe, que tipo amante, de esposa... tudo com a suave ilusão de que está-se livre (democrática e liberalmente livre!) para se ser o que quiser. Na verdade, por baixo de todos os figurinos que o sistema lhe permite encarnar estão as camisas-de-força do Consumidor. É esta condição que, nessa sociedade, permite que sejamos o que quisermos, desde um punk revoltado (com a camisa do sex pistols) ou um socialista saudosista (com a camisa do Che).

Mas... sob todas as roupas que nos vestiram - em nossas peles - o que está inscrito?

Vamos vivendo, olhando somente para o que estamos parecendo no palco. Não estamos de olho em nosso passado – imagine se no futuro! O que queremos que nossas vidas se transformem? O que estamos planejando para deixar com os outros? Que idéias eu, miserável eu, estou propagando pelo mundo? É o papel que eu queria? Ou é o que sou?

A questão é muito mais complicada. Tão complicada quanto chegar-se à frente do espelho para tirar a maquiagem dos papéis que interpretastes durante o dia, e de súbito, ver tua face escorrendo pelo ralo da pia. Esquecemos nossa face, esquecemos de quem somos = nossas vidas não nos pertencem mais.

Será que você é capaz de escrever sua biografia – mas não simplesmente olhando para o passado (essa seria a parte mais fácil), mas olhando para o futuro? É favor não confundir com uma experiência de atar-se à promessas de ano novo, é muito mais que isso: é definir, com base no que se viveu e no que se é (se é que ainda se “é”) aquilo que se é projeto de si.

O objetivo não é ser lembrado. É não se esquecer.