sábado, 8 de janeiro de 2011

Escola sem Homofobia, é possível? Como?


Na página http://eleicoeshoje.wordpress.com/2010/12/16/kit-gay/ , tem um texto escrito por Karla Joyce discutindo o seminário “Escola Sem Homofobia” , ´´realizado na Câmara dos Deputados [e] proposto pelas Comissões de Direitos Humanos e Minorias, Legislação Participativa e Educação e Cultura´´. O intuito do seminário era elucidar a homofobia existente nas escolas públicas brasileiras e desenvolver alternativas pautadas nos Direitos Humanos.


Devido aos pronunciamentos preconceituosos do deputado federal Jair Bolsonaro, do Partido Progressista do Estado do Rio de Janeiro, no dia 30/11/2010, o projeto desenvolvido pelo MEC em parceria com algumas organizações, chamado ´´Kit contra homofobia´´, ficou conhecido como ´´Kit Gay´´. Esse deputado recebeu apoio do Deputado Paes de Lira (PTC – SP) e de grande parte da opinião pública. Não sei dizer se esta parcela da sociedade é influenciada ou é a demanda para programas de televisão como Superpop e o Programa do Ratinho (e tantos outros programas regionais com o mesmo tom massificado, conservador e violento), mas o resultado foi esse tom pejorativo e PRE-conceituoso em relação ao projeto.



´´O projeto Escola sem Homofobia é um braço do programa Brasil sem Homofobia. Um grupo de trabalho foi criado para discutir a questão da homofobia em ambiente escolar. É composto por gestores do MEC (Ministério da Educação) eONG’s como a ABGLT, Ecos – Comunicação em Sexualidade, Pathfinder, Reprolatina, Galé International , entre outras. A primeira ação do grupo foi realizar uma pesquisa nacional para diagnosticar a situação das escolas públicas brasileiras no que diz respeito da homofobia ´´.

 Ainda vemos muitos discursos sobre a democracia e a cidadania que não tocam em várias feridas. Os parlamentares não se cansam de usar esses termos quando lhes é conveniente e não se cansam de esquece-los também. Vemos propagandas que dizem ´´Prefeitura de ´Utópolis´, trabalhando por você´´ e fica a constatação ´´é claro que tem que ser pela população, por quem mais seria?´´. Mas é claro que maioria do trabalho do Estado é para manter a si mesmo, não para melhorar a vida da população. E outra pergunta é sobre o ´´você´´. Que ´´você´´ é esse que exclui tantas pessoas tirando-lhes o direito a essa tão sonhada Cidadania?! Além das pessoas que rechaçam aberta e categoricamente o homossexualismo, vemos também comentários como ´´eu não tenho preconceito contra gays...desde que seja longe de mim... não, meu filho não!!! Eu botava para fora de casa... Tudo bem ser gay, mas adotar não, vai fazer a criança virar gay... Fulano é gay, mas é quase normal, você olha e nem percebe...´´.
Esse é ou não, assim como o racismo no Brasil, um preconceito hipócrita de grande parte da população? Um preconceito que se ´´NEGA´´ no discurso direto, mas se manifesta em várias vias difusas, em vários conceitos (muitas vezes tidos como neutros).


Esse é um tema polêmico, que não se esgota por aqui. Seria muito interessante fazer o debate (e o mais importante, um debate que escute os sujeitos em questão), debate que nossos políticos candidatos evitam veementemente, e aparecem de forma insossa nas publicidades como se fossem os representantes de todos. Falam dos mandatos anteriores e falam que vão melhorar muito a educação, o trabalho, a saúde e a habitação, mas não dizem como. E depois, estão lá, nessa atividade considerada irrelevante para tantas pessoas, que é o ato de legislar. Legislar contra o uso de células-tronco, contra o aborto, contra o casamento homossexual, contra a adoção por casais homossexuais...*** 


PREÂMBULO
        Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.




*** Não quero impor minha opinião dogmaticamente (sobre aborto, homossexualismo etc), mas ressalto que a Constituição faz isso, por exemplo quando impõe um deus. Ou em outras partes, a defesa desse Estado Democrático e Pluralista, que defende a igualdade e a justiça são letras mortas. ´´Todos são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros´´?!

Não pretendo com isso, afirmar o que é ou não  definitivamente ou absolutamente errado, mas o debate não precisa ser feito com argumentos que superam a parca visão do deputado Jair Bolsonaro ou do ´´Programa do Ratinho´´ ou do ´´Superpop´´? E nesse ponto, ´´ESCOLA SEM HOMOFOBIA´´ é um projeto corajoso, que pode não acabar com a homofobia, mas que pelo menos faz com que isso seja discutido nas escolas, com que se pare de fingir que o homossexualidade não existe.

4 comentários:

  1. Quem olhar o site da Karla Joyce vai notar o clipe do Pink Floyd ´´Another Brick in The Wall´´... eu disse que era clichê. Mas é, infelizmente, um relato do nosso tipo de educação newtoniana-cartesiana.

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  2. Também vou deixar link da págica do Vagner de Almeida, que tem um monte de filmes sobre a temática GLBT. Entre eles, o vídeo ESCOLA SEM HOMOFOBIA de 2006 http://www.vagnerdealmeida.com/FilmesDR.htm

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  3. Acredito que uma escola sem homofobia seja possível, mas quando houver uma mudança na mentalidade brasileira, que hoje apesar da aparente ''aceitação'‘, o conservadorismo e o preconceito existem e imperam na sociedade brasileira. As pessoas tentam ser politicamente corretas, mas não conseguem, pois acabam sempre nos chamando de ‘’quase normais’’.Para que uma escola trabalhe bem a questão da homofobia ela tem que ir alem de suas simples aulas de Orientação sexual, que acabam se restringindo ao uso da camisinha e colocando a relação sexual como algo que se deve temer,como se o assunto sexo estivesse relacionando somente a doenças e não ao bem que ele faz(seja para pele,para o humor e a vida pessoal)!Por que não fazer um programa de aulas de orientação sexual nas escolas que incluam a discussão de gênero, a construção da sexualidade e como a sociedade brasileira lida com a diversidade?(de modo violento é claro, já que no ano de 2010 registrou-se um Recorde no que diz respeito à morte de LGBTS, 250 mortes é o dado levantado pelo Grupo Gay da Bahia ).
    É valido também as escolas trabalharem com os veículos de comunicação, mostrando que os mesmos não se preocupam em transmitir uma noticia de qualidade a população e que elas não são nem um pouco imparciais. As escolas têm que mostrar que quando os jornais e revistas publicam que: ''mais um travesti foi morto..o nome do rapaz era...''. Acabam desrespeita toda a identidade da travesti.É valido que as escolas peguem este tipo de reportagem e façam uma analise critica,com as seguintes indagações:será que a forma como essa reportagem foi divulgada não fomenta ainda mais aquela idéia de que travesti é um homem de saia?Uma recusa de ser homem?
    Quanto que na verdade,travesti é uma identidade de gênero.E é valido fazer também o seguinte questionamento:o que é ser homem e mulher?Será que isso realmente existe ou são apenas condutas socialmente construídas ao longo dos séculos?Será que não seria interessante desnaturalizar tanto a homossexualidade como a heterossexualidade e coloca-lá em questão?
    É valido Fazer um estudo com os alunos na área de História e mostrar a eles que tanto a palavra homossexual e heterossexual só veio a existir a partir do século XIX.
    São essas e muitas outras intervenções que vão possibilitar que a homofobia seja abolida não somente na escola, mas sim em toda a sociedade.
    Mas quando isso será possível?E o que VOCÊ faz para que isso aconteça?

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  4. Nóóóóóóóóssa, um comentário tão bom e ficou ai abandonado. Falhas do sistema! hahahah

    Subversão, vamos subverter mesmo essa educação hipócrita. A parte sobre o "quase normais" foi e muito uma ironia. Estamos aqui, muit@s d@s integrantes d@ Krisis, pensando e agindo pela desconstrução de ver o "sexo" e o "gênero" como naturais. Não são! São construções! Estamos aqui contra a "patologização da transexualidade". Contra as limitações de quem você pode gostar ou não. Estamos aqui a favor da expressão, do afeto, do cuidado, de visões libertárias...


    Dialogo inclusive com quem vive de outras maneiras. Foi justamente uma parte importante do texto, a critica ao fato de se falar muito de LGBT/ALGBT, mas não se chamar alguém que se considera nessas condições para o debate. Que projeto a favor de travestis foi aprovado ouvindo travestis? Que advogadXs travestis participam desses processos? Que educadorXs travestis estão nas escolas...? A gente vive mesmo uma educação tacanha e limitadora. Quais são os colégios que tem professores assumidamente ALGBT e quais são os pais que estão de acordo com isso? Eu, felizmente, conheço uns poucos colégios que tem sim, professores assumidamente ALBT, não é fácil, não é perfeito, muitXs estudantes exercem seus preconceitos e piadinhas... mas ai estão, trabalhando! E sem ter que mentir o dia inteiro sobre quem são. Ninguém tem que chegar na sala de aula e falar, "oi eu sou fulanX, sou gay", mas também não tem que mentir. No caso de travestis, eu não vejo travestis nem nas universidades. Que acontece? Vivemos num mundo hipócrita que segrega até ai. A universidade é o reduto da segregação, da educação como um privilégio. Isso temos que mudar também!

    Não! Não é fácil levar essas discussões para as escolas. Não! ProfessorXs não estão preparadXs! Cursinhos ainda são redutos de machismos e homofobias! Mas as iniciativas são válidas. Como esse projeto ai vai ser/está sendo aplicado, eu não sei. Mas nós aqui, em Krisis, estamos pensando, pensando, tentando, tentando, agindo como podemos. Buscamos meios de viver e difundir alternativas mais libertárias e subverter sempre que possível. Se você tiver sugestões, críticas, indicações de leitura, opiniões... manda ai. Que o dialogo é super importante.

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