quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Você tem Normose ?



"NORMOSE" (a doença de ser normal)
Todo mundo quer se encaixar num padrão. Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar. O sujeito "normal" é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido. Bebe socialmente, está de bem com a vida, não pode parecer de forma alguma que está passando por algum problema. Quem não se "normaliza", quem não se encaixa nesses padrões, acaba adoecendo. A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de não enquadramento. A pergunta a ser feita é: quem espera o quê de nós? Quem são esses ditadores de comportamento que "exercem" tanto poder sobre nossas vidas? Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha "presença" através de modelos de comportamento amplamente divulgados. A normose não é brincadeira. Ela estimula a inveja, a auto-depreciação e a ânsia de querer ser o que não se precisa ser. Você precisa de quantos pares de sapato? Comparecer em quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar? Então, como aliviar os sintomas desta doença?Um pouco de auto-estima basta. Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras bovinamente, e, sim, aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram com os riscos de viver uma vida a seu modo. Criaram o seu "normal" e jogaram fora a fórmula, não patentearam, não passaram adiante. O normal de cada um tem que ser original. Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros. É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais. Eu simpatizo cada vez mais com aqueles que lutam para remover obstáculos mentais e emocionais e tentam viver de forma mais íntegra, simples e sincera. Para mim são os verdadeiros normais, porque não conseguem colocar máscaras ou simular situações. Se parecem sofrer, é porque estão sofrendo. E se estão sorrindo, é porque a alma lhes é iluminada. Por isso divulgue o alerta: a normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e felizes.
Michel Schimidt
Psicoterapeuta

4 comentários:

  1. Pois é, e uma pitada de Elias! A questão é: quando vamos parar de brincar de Jogo da Vida? Acredito, e MUITO, que o tio Durkheim está errado, e podemos sim fugir do fato social...

    "A condição de ser oprimido tem algumas pequenas compensações, e é por isso que às vezes estamos dispostos a tolerá-la. O opressor mais eficiente é aquele que persuade seus subalternos a amar, desejar e identificar-se com seu poder; e qualquer prática de emancipação política envolve portanto a mais difícil de todas as formas de liberação, o libertar-nos de nós mesmos” (Terry Eagleton)

    ResponderExcluir
  2. receio ter que disordar!
    Seres que vivem em sociedade são obrigados a se acomodar em alguns fatos sociais; se não, não faria sentido viver em grupo. Sei que não precisamos aceitar todos eles; mas, para facilidade da vida, alguns são inevitáveis. Já estamos acostumados a aceitá-los, e talvez isso não seja ruim.

    ResponderExcluir
  3. Mas a questão aí entra no ponto de que, independente de segui-lo ou não, há a necessidade de reconhecimento da sua existência. Sabermos o porquê da lingua ser um fato social, para aí sim exercer uma crítica sobre ela, mesmo não sendo negada ao final disso tudo. É perceber o fato social enquanto ferramenta de vida, ao invés de mantê-lo como fio condutor da mesma. O problema é justamente que os fatos sociais se dão insconscientemente.

    ResponderExcluir