sábado, 27 de novembro de 2010

Complete a frase: ‘Penso, logo ...’ A) Existo B) Resisto C) Desisto

O ex-candidato ao senado Aloísio Mercadante, pelo PT, disse, pouco antes das eleições, em uma das suas propagandas, que apenas 13% da população tinha acesso à universidade e, devido a isso, iria investir em uma educação técnica para o resto das pessoas que caem no mercado de trabalho. Em outras palavras: apenas 13% da população continuaria tendo condições de entrar na universidade, enquanto o resto estaria lançado ao mercado de trabalho. Isto sem contar que, em relação à universidade pública, essa porcentagem cai para 2%!!

E, como se já não bastasse este exemplo, também é comum ouvir, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, que essa idéia é válida, pois deve haver quem pense e quem trabalhe! Principalmente pelo fato de que as pessoas que dizem isso serem as que possuem as condições ditas como necessárias (o pacote premium do neoliberalismo) que as fazem ser parte deste corpo supostamente pensante, mas que não passa de um mero formador e perpetuador da ideologia dominante! Se dizem pensantes, mas são tão alienados quanto os outros...

Não se iludam meus caros, pois o jogo de marionetes atinge a todos, absorvido pelos mesmos mecanismos de acúmulo e consumo que o resto da sociedade. A única diferença é que vocês os saciam, pois possuem o papel verde que permite a compra de sua própria alienação! Então lhes perguntamos: realmente vocês pensam? Pois além de sofrerem a alienação já introjetada pela sociedade, vocês ainda querem mais, precisam de mais... Até isso vocês querem acumular mais do que os outros? Como se já não bastasse usar o dinheiro para ganhar mais dinheiro, pretendem fazer isso com a alienação? E pior, se o desejo por mais não vier do instinto humano, mas sim de algo externo a ele, podem ter certeza que o poço em que vocês estão é muito mais fundo do que pensam, principalmente, pois querem sempre uma colher maior para cavar... Enganam-se caso acreditem que a posição de vocês é melhor... é diferente, mas passa longe de ser melhor...

Vivemos em meio a uma guerra silenciosa e infelizmente considerada digna pelo pensamento dominante: a competição pelo mercado de trabalho, onde cada indivíduo é por si só, pisando em quem tem que pisar, puxando o saco de quem tem que puxar, para assim conseguir seu território, sua segurança e seu isolamento... e assim nos tornamos países em micro escala, quando na verdade nem deveriam existir...

E, partindo de uma esperança de que o pensamento, apesar de todas essas pressões, é possível, em que momento ele se transforma em ação? Quantos são os que se dizem críticos perante a sociedade, mas que a crítica se faz apenas em um discurso voltado unicamente à valorização da imagem de quem o diz, e não do conteúdo em si. Há uma cidadania para zelar, uma cidadania na qual ninguém sabe por que ela existe e ainda assim é aceito que ela tem que existir. Isso porque a própria resposta do por que não explica o porquê, e sim argumenta a favor do dever. Se diz uma cidadania crítica, mas é, em sua base, uma forma de alienação. Não é nada mais um mecanismo que faz aceitarmos a compreensão de mundo vigente, partindo de valores e pressupostos que façam com que essa compreensão exista e se perpetue em harmonia...

Se é possível uma relação entre pensamento e ação, que resulte na formulação de uma consciência critica (e acreditamos que SIM, é possível!), o primeiro passo se dá em reconhecer o quanto o pensamento de outros suprime nosso próprio pensamento e ação. A cidadania não é nada mais do que um pensamento de outros introjetado a todos, juntamente com a necessidade de se jogar ao mercado de trabalho, ou de ter uma televisão em casa. Se não pudermos reconhecer o que nos prende, como iremos nos libertar? Se não percebermos que colocam pilhas em nós, continuaremos sendo robôs de brinquedo que andam em voltas e giram a cabeça...

2 comentários:

  1. [tio.taz]
    Ora, se todos vivem numa mentira, ela se torna verdade... não é?
    Tentei achar um quadrinho da mafalda, mas como não achei, me resta descrever: Miguelito pede à Mafalda um pedaço de papel. Ela dá um papel a ele, e ele replica "não, quero um papel daqueles que dá para comprar coisas". Ela aborrecida diz que aquele papel se chama DINHEIRO, e finalmente ele responde, ainda mais aborrecido, que se trata de uma questão de CONCEITO!

    Afinal, quem seria louco de trocar uma coisa por um pedaço de papel?? huahauhauha

    Enquanto a maioria aceitar a mentira coletiva como verdade individual, ainda viveremos numa sociedade podre como esta, que não difere muito daquela que, num tempo histórico, aceitou calada o holocausto...

    ResponderExcluir
  2. Vivemos em uma sociedade mascarada!
    Se há tentativas de acabar com a pobreza no mundo, por exemplo, com todo aquele discurso de cidadania e de condições dignas de se viver, para mim fica explícito de que a intenção de muitas dessas tentivas é na realidade aumentar o poder de compra, o número de consumidores.

    Infelizmente existem sim os loucos que trocam as coisas por um pedaço de papel e acreditam que é a forma mais justa e natural de se viver em sociedade.

    ResponderExcluir