domingo, 10 de outubro de 2010

ABRA OS OLHOS. E MEXA-SE!



Se você acha que possui liberdade de pensamento, está cruelmente enganado. Infelizmente, nossa cultura ocidental já te impõe certos pensamentos embutidos: escolher uma profissão que te dê um ótimo retorno financeiro – o “bom” não é suficiente – , casar-se, ter filhos, construir uma casa, viajar todos os anos para gastar seu salário em restaurantes finos e hotéis cinco estrelas, trabalhar até seus joelhos não mais suportarem, e passar estabilidade financeira e social para SUA família. Em suma: fazer a SUA carreira, baseada no individualismo capitalista. Esse é o sonho enlatado que compramos da indústria cultural, e o único considerado um verdadeiro objetivo de vida; pessoas que tenham outras metas são consideradas excêntricas.
Analisemos agora como, desde a sua infância, isso é pressionado contra sua mente: o sonho de todo pai é que seu filho se torne um advogado, um médico ou um engenheiro. Aliás, esse não é somente o sonho dos pais: é o que a sociedade como um todo espera de você. Fazer aquilo que se gosta não é válido; afinal de contas, você é feliz se você consome. É por isso, inclusive, que almejam te colocar numa escola particular renomada. E essas escolas são verdadeiras máquinas de treinar estudantes para a prova mais estressante e mais esperada da vida de um jovem da classe média: o vestibular, que, na teoria, não deveria nem existir, porque educação é um direito de toda a população (Brasil: um país de todos?). Digo da classe média porque um estudante pobre que estuda numa escola pública – e leia-se aí deficiente – dificilmente terá chances de concorrer com outro de uma escola particular – e ele sabe disso –, e a elite pode pagar uma universidade cara para seu filho; e é essa a nossa democracia.
Ao entrar numa escola particular, você logo de início é bombardeado com uma quantidade absurda de informações: fórmulas, detalhes, macetes, fatos, atualidades, o diabo a quatro. Todo o conhecimento acumulado, a partir de então, terá um único fim: vestibular, vestibular, vestibular. Não te ensinam, necessariamente, para que você está aprendendo tudo aquilo: você simplesmente “memoriza” (os professores não gostam do verbo “decorar”) para a tal maldita prova. Noções básicas de cidadania, que seriam deveras úteis para você e para a sociedade, foram totalmente esquecidas, porque não são cobradas pela FUVEST. E, além disso, quem se importa com a sociedade? VOCÊ produz, VOCÊ consome, VOCÊ trabalha e com isso acha que está fazendo sua parte. “Assim, pelo menos, faço a economia do país girar”. O Brasil é a oitava economia do mundo. Você realmente está satisfeito com isso? Acha que isso é o reflexo da nossa realidade?  Dê uma olhada em Brasília. Dê uma olhada no Nordeste. Dê uma olhada na periferia da sua cidade. O que você faz por eles? Se ainda está satisfeito, é melhor rever seus conceitos.
Retirantes - Portinari
O que fizeram com você? Fizeram você pensar que a escola, a faculdade ou o trabalho são as coisas pelas quais você vive. Ou seja, você vive para você mesmo. Qual o sentido de se viver em sociedade, quando o seu umbigo é a única coisa que importa? Ou você faz alguma coisa para ajudar nas deficiências e emergências do seu meio, ou você não tem função social alguma e está fora. Desde os primórdios, essa é a lei moral e ética de um grupo. Quem nunca ouviu um professor dizer: “Estude sete horas por dia, passe em medicina, ganhe dinheiro e seja feliz”, quando o eticamente correto seria “Faça alguma coisa de útil para a humanidade”? O capitalismo te ensina a competição – algo que soa como um paradoxo para nós, que vivemos em grupo – quando o sistema deveria te ensinar, isso sim, a trabalhar em equipe. Em vez disso, você passa grande parte da sua vida estudando números complexos, eletricidade, angiospermas, orações subordinadas, tudo isso para garantir a SUA vaga no mercado de trabalho, e “o problema do outro não é problema seu”. Você se acha intelectual e culto porque sabe tudo sobre a política atual ou sobre a filosofia clássica. E sobre a filosofia moderna, já leu alguma coisa? Conhece Francis Bacon e sua filosofia utilitarista, que defende a utilização da filosofia no mundo prático? Não? Bom, então acho que você não é tão culto assim. Viver em sociedade não é simplesmente colocar-se no meio dela e cuidar de você mesmo.
http://www.flickr.com/photos/alexhailong/137441501
Você, o culto, se não se considera alienado, é então um conformado – o que, na minha simplória opinião, é ainda pior, pois você não faz porque não quer, e não porque não sabe o que deve fazer. E digo mais: existem mais pessoas conformadas do que alienadas. Portanto, se você já abriu os olhos – o que não basta –, está na hora de começar a se mexer. Agora.

2 comentários:

  1. Fenomenal!

    mas não se preocupe! assim que vc entrar na faculdade vai poder liberar gigas e gigas de memória, já que usamos muito pouco do "conhecimento" que nos é passado...

    O pior é que nossos pais esperam de nós advogados, dentistas, médicos, engenheiros e todas estas profissões ditas "clássicas", mas a sociedade não! não, porque a sociedade está SATURADA desses "profissionais", e quanto mais se formarem pior, mais competição!

    no mais, é como matar um leão por dia... só que no nosso caso, os matamos engasgados!

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  2. "Intelligence should be our first weapon
    And stop reveling in rejection
    And follow yourselves, not some ageing drain brain
    Whose quite content to go on feeding you garbage
    We're running on the spot - always have - always will?
    We're just the next generation of the emotionally crippled." (The Jam - Running on the Spot)

    O pior [2] é que a fuga destas profissões clássicas recai ou em outras altamente requisitadas pelo mercado de trabalho, que provavelmente surgiram justamente para atender esse mercado, ou naquelas em que você cai de paraquedas, pega um diploma e sai fazendo mal uso da mesma, sem ter real noção do sentido que ela pode ter pra sociedade... na nossa ilustre profissão (minha e do indivíduo acima, no caso), por exemplo, temos o predomínio da reprodução destes mesmos conhecimentos superciais e sem sentido para a realidade cotidiana do estudante!

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