terça-feira, 14 de dezembro de 2010

CONSUMISMO... (nossos cérebros) pensando sobre.

Tudo bem galera?
 
Lendo o artigo anterior, pensando na parada da exibição dos vídeos durante a época do Natal, o fato de "Jesus sangrar presentes", os comentários do Buriti, da Monique e da ZAZ no post anterior me fizeram voltar a um velho fantasma, o consumismo.


O consumismo é o que alimenta, e é o que mantém a fome. Alimenta o capitalismo, nossa sede de consumo, a ganância de "parecer", de "galgar" - mesmo que sejam crânios de desconhecidos (menos mal pois se fossem próximos, humanos/animais de estimação seria bem difícil!). Mantém a fome de milhares de pessoas, não só aquelas que sofrem da fome "crônica" como os pobres subnutridos, comendo junkie food, enlatados, sódio e açúcar, comida de péssima qualidade, para poder pagar a tv de plasma. Aliás, acostumam-se mesmo depois de pagar, continuam comendo - comida É comida (ou pasto).

Outros meios de vida? Existem, sim. Existem ações contra o consumismo. Mas não conheço nenhuma que não passe por uma mudança moral. Claro, você pode imitar seus amigos e diminuir drasticamente o consumo - mas você não aguentará olhar para um sapato na vitrine, um churrasco entre amigos, ou aquela beleza de carro novo que saiu agora (o mesmo do ano 2000), sucumbirá porque não é você. Só é uma mudança moral quando há autonomia de buscar a resposta. Não é ir "meramente" contra o capitalismo, é ENTENDER o por quê suas ações devem ser pensadas e repensadas.

Suas ações influenciam as pessoas à sua volta. E não falo entre aqueles que são seus amigos, pois muitos daqueles que supostamente não gostam de você podem avaliar sua postura como algo "extra-ordinário". lembro-me de um cara na facul a quem eu me opunha em todas as idéias. No entanto, ele se levantava nas assembléias e dava sua opinião, ao ponto de ser vaiado. Por mais que eu não gostasse das idéias dele, tinha que admitir: coragem de expor suas idéias não é para qualquer um (que não queira). E isso mostra como mesmo pessoas que não gostamos podem nos influenciar, e vice-versa. Ensinamos melhor quando somos a lição.

 

Quando se toma uma posição, que parte de você, na qual você desceu âncora, é difícil te tirar dali. As pessoas podem ter argumentos fortíssimos, mas os seus sempre serão maiores e melhores, pois respondem às suas necessidades morais.




O que eu quero dizer com tudo isso tudo: nossas ações influenciam as pessoas a nossa volta. Antes delas, influenciam a nossa própria vida e nos faz repensar HÁBITOS. São nossos "hábitos" - ações que executamos sem reflexão da "origem" - que nos identificam enquanto atores sociais. O que fazemos na faculdade? O que discutimos com nosso "melhor" amigo? O que pensamos quando discutimos política com nossos pais? E sobre o consumismo: Para quê estou comprando isso? Por quê um celular novo? Seria saudável para mim consumir tanto refrigerante? Por quê eu preciso beber cerveja quando estou numa festa? Ela me faz "ter coragem"?? Eu realmente preciso de um pedaço de carne em todas as minhas refeições? Esse computador veio de onde? Será que eu não consigo costurar isso? Posso reutilizar essa embalagem! Eu consigo fazer um desse com um tutorial da internet me ensinando! Etc...

Existem várias maneiras de diminuir o consumo pessoal, existem muito motivos também. Vou colocar algumas idéias que talvez sejam conhecidas de vocês, mas que pode servir de exemplos para passarmos adiante.

Boicote: Essa é uma estratégia geralmente individual. O boicote (no caso do consumismo) está
Frase clássica nesse tipo de boicote
associado principalmente a motivações políticas contra a indústria produtora, sua marca e/ou sua origem. Um exemplo é o boicote de produtos da Coca-Cola ou McDonald's por serem símbolos dos EUA (considerado por muitos, como Noam Chomsky, um Império). No entanto, o boicote não é muito efetivo quando isolado, sua força reside na divulgação maciça de "motivos para adesão" e da formação de grandes grupos de não-consumo e de anti-propaganda. Um erro comum é substituir um produto por outro da mesma origem, como as pessoas que "boicotam" a coca-cola por serem contra os EUA, mas consomem Fanta, ou ainda Pepsi. Não é a mesma coisa de quem boicota a coca-cola por acreditar que a coca-cola faça pior uso da propaganda que os outros refrigerantes, nao importa de onde saiam.

Freeganismo: é um estilo de vida considerado extremo pela sociedade, pois vai de encontro à grande maioria dos valores ocidentais como o consumo, a não-reciclagem, o trabalho como valor, contra o dinheiro, etc. Os freegans se propõem à não participar do sistema desprodutivo capitalista: evitam ao máximo o processo de compra e venda por dinheiro. Utilizam da solidariedade de grupos, transformam canteiros, terrenos baldios e praças em hortas livres, fazem mergulhos em lixeiras (tanto no sentido explícito do termo quanto na busca por produtos desperdiçados por redes de varejo), utilizam transporte com mínimo impacto poluente, como bikes, skates, ou caronas coletivas, trocam, e doam coisas, evitam a acumulação de apetrechos desnecessários, usam do Do It Yourself como modo de viver, e principalmente recusam ao máximo qualquer tipo de exploração de seres senscientes, o que certamente recai em veganismo. É drástico, mas causa alto impacto nas pessoas que convivem com esses indivíduos - mas dificilmente afeta pessoas de um círculo médio em diante: a tendência social é tratar essas pessoas como mendigas, apesar de terem optado politicamente por esse meio de vida, através da discordância. Segue um vídeo, mas o som não está muito bom:


Consumo local: Existem pessoas que não consomem nada que seja produzido em lugares que ela não possa visitar e ter controle pessoal (vistoria) da produção. Cada um estipula o limite de distância dos produtos que pode consumir, que em média está em 50km. O objetivo é claro: fortalecer uma economia local, entre pequenos produtores que prezem por qualidade dos produtos. Geralmente acabam construindo uma pequena horta de emergência no fundo do quintal e usando bricolagem/DIY para efetuar as pequenas obras necessárias. Li sobre eles numa revista há um tempo atrás. Era a experiência de um cara que tentava se tornar um desses. Falhou fragorosamente porquê não tinha prática em horticultura, e problemas com uma tempestade foderam atrapalharam seu projeto. Se alguém souber o nome específico desse modus vivendi, avise!

Produção própria: aquele que quer se tornar um pequeno produtor para consumo próprio
geralmente percebe, com o desenvolvimento de sua horta pessoal, a abundância que seu esforço promove. E aquele produtor que está justamente tentando ir contra o sistema costuma incentivar vizinhos e amigos a também fazerem hortas para que haja trocas, ou descanso da terra ao longo dos tempos. Há, nesse caso, tendência à economia solidária, que além de transformar o consumo em algo mais consciente através do entendimento do processo produtivo, também reduz o uso do dinheiro na troca por comida "simples" - aquela que não depende de processos industriais para chegar à sua casa. Uma horta caseira dá um pouco de trabalho, é verdade, ainda mais para quem nunca experimentou. Mas o esforço é recompensador - nada como um alface plantado por você mesmo, ou um tomate fresco, colhido na hora! Clique aqui para conhecer um site que ensina a fazer hortas, e dá dicas para a manutenção delas.

Esses são alguns exemplos. Mas constantemente ouço falar de pessoas que recusam participar de "datas comemorativas" onde haja troca de presentes nos quais se gaste dinheiro e não criatividade ou tempo; pessoas que evitam o consumo de energia elétrica ao extremo; gente que colhe água de lavar roupas para lavar o chão; gente que não assiste televisão; gente que não consome nenhum produto que tenha utilizado propaganda televisiva; gente que adapta a economia do dom para o dia a dia...

Enfim. Finalizando esse longo post, penso que podemos influenciar as pessoas sim, com nossas atitudes. Antes delas, estejamos dispostos à nos movimentar, balançar nossas estruturas, nossos hábitos, e abrir mão de certas "facilidades" - que parte das vezes são meras acomodações. Esse é um dos propósitos do KRISIS, implícito no manifesto, o ato de criticar a si mesmo para encontrar aquilo que está presente em todos.

E aí, somos a mudança que queremos para o mundo?

--------------------------------
um vídeo MUITO interessante para entrar na pira. GARANTO que vão ser os 10 minutos mais bem aproveitados deste post...


e aí? louco? - e se todos os que estão aqui fora forem os loucos, os sãos estariam no hospício?

4 comentários:

  1. Muito bom cara, um apanhado bem legal da situação!

    Agora ninguém aqui tem desculpa pra continuar fazendo nada!

    ResponderExcluir
  2. Gostei muito do post. Estou em processo de amadurecimento de muitas ideias que você elencou. Também penso que podemos mudar muita coisa, começando por nós mesmos: vai presentear alguém neste natal? Faça você mesmo!
    O ano passado, eu e o Buriti selecionamos algumas bandas que gostamos, gravamos num CD, fizemos capinhas com palavras que expressavam nossos sentimentos e demos de presente de natal para nossos familiares.
    A mudança está em cada um de nós, basta desperta-la!

    Um abraço e FORÇA!!!!!!!

    ResponderExcluir
  3. Manoolo, que vídeo! São essas coisas que nos fazem pensar e nos mostram que a mudança se dá em cada um de nós e não em uma "elite pensante", talvez se o dialogo fosse valorizado....

    ResponderExcluir
  4. ÓTIMO POST.
    Com certeza, antes de qualquer coisa, precisamos nós mesmos nos firmar em nossa ideologia. Não podemos exigir de toda a sociedade algo que não provamos ser possível. Exemplo. Isso é muito importante. Esse post me fez pensar em várias coisas e me deu força pra outras.
    Se nos solidificamos sobre aquilo que acreditamos, realmente fica difícil ser derrubado com argumentos negativistas ou exemplos. Agir é o próximo passo. E o TAZ deu ideias ótimas para isso. Parabéns e obrigada!

    ResponderExcluir