quarta-feira, 25 de abril de 2012

Capitalismo verde ainda é capitalismo



Todo mundo sabe que está na moda falar sobre “capitalismo sustentável” e “economia verde”. Todas as empresas se apresentam como sendo ambientalmente corretas e socialmente responsáveis e o termo sustentabilidade é a bola da vez.

O problema é que conciliar a conservação do meio ambiente e a produção capitalista de bens de consumo parece impossível. Além disso, as empresas e países têm resistido ao debate, já que preservar significa custos e consequentemente diminuição no lucro.

Até agora, pelo menos, a única perspectiva de debate que vamos assistir será a Rio +20 que acontecerá no Rio de Janeiro e pretende atualizar os protocolos de intenções dos países que vão ter um papel mostrando que se preocupam com o meio ambiente. Possivelmente nada farão na prática, assim como foi com Kyoto.
Mas surgiu uma luz para as empresas: E se ao invés de limitarem a produção em prol do meio ambiente, porque não fazer dos próprios recursos naturais mais uma forma de lucro? Surgiu assim o debate para a venda de créditos de carbono [conhecido pela sigla REDD - Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação].

A proposta é que ao invés de diminuir o seu próprio impacto diminuindo a produção a empresa pode “colaborar com o mundo” comprando uma floresta. E os países que ainda têm floresta não precisaram se sentir culpados por não terem acabado com suas florestas, porque receberão dinheiro por isso.
No momento, propostas de projetos assim já começaram a surgir, mas todos ainda aguardam uma regulamentação global da prática para que possamos produzir poluição e degradação e trocar por rios, ar e quem sabe, até povos tradicionais.

Mas isso é sustentabilidade ou economia verde? O conceito de sustentabilidade está associado a pensar no futuro, produzir para que se possa continuar produzindo. Mas a lógica capitalista de produção não funciona dessa forma, já que quanto mais escasso é um produto, mais valioso ele é.  Como já explicou em um artigo Camila Moreno, coordenadora de sustentabilidade da Fundação Heinrich Böll, a Economia Verde carrega uma grande contradição: ela só produz riqueza quando há escassez dos recursos naturais. Afinal, se houvesse, por exemplo, água para todos, alguém precisaria pagar por ela?

A proposta em discussão que temos significa somente a mercantilizarão da natureza. Não estamos caminhando para um mundo mais justo, com mais produção de alimentos e que assegure os recursos mínimos para sobrevivermos. Estamos assegurando somente a manutenção da economia vigente e com novas palavras que impulsionam o marketing. Estão pintando uma economia já velha de verde.

Destaco que um dos temas do evento Rio +20 é a erradicação da miséria. Mas os debates sociais que englobam também a proteção dos povos originários ficaram de lado, e serão debatidos em um evento paralelo, chamado Cúpula dos Povos, que ainda precisa conseguir autorização para o local. Afinal, não acharam que iriam reunir todos os líderes do planeta pra discutir esses detalhes, não é?

É importante pensar no meio ambiente. Mas que ele não seja só mais um meio para viabilizar o capitalismo. Mesmo que seja pintado de verde, ainda é capitalismo.

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