quarta-feira, 4 de abril de 2012

[Grécia] Suicídio público em frente ao Parlamento

Um aposentado de 77 anos suicidou-se nesta manhã na praça principal de Atenas, Sintagma (Constituição), em frente ao Parlamento. Foi um dos muitos suicídios realizados durante os últimos anos na Grécia. Talvez a palavra suicídio esteja colocada errada. Na realidade se trata de um assassinato. As condições desumanas de insegurança, precariedade, miséria e raiva que geraram o Sistema, conduzem ao desespero e à morte.
A Grécia é um dos primeiros países na Europa em número de suicídios por habitantes, apesar de alguns anos atrás ter sido um dos países com menor número de suicídios na Europa. Segundo dados oficiais, há um aumento de 40% entre janeiro e maio deste ano em relação ao mesmo período de 2010. Os suicídios dobraram desde que começou a chamada crise, há aproximadamente dois anos. E vão crescendo dia a dia. Somente hoje, 4 de abril, uma outra pessoa cometeu suicídio em Creta, enquanto outra pessoa tentou o suicídio na ilha de Quios.
O aposentado enfrentava enormes problemas econômicos que o levaram ao desespero. Às 9 horas da manhã ele deu um tiro com uma arma em si mesmo, escolhendo acabar com a sua vida em um local simbólico. No bilhete que ele deixou [primeira imagem em anexo] diz:
"O governo de ocupação de Tsolákoglu¹ destruiu literalmente todos os vestígios da minha sobrevivência, que se baseava em uma pensão digna, onde eu estive pagando por 35 anos (sem apoio do Estado).
E como que eu tenho uma idade que não me permite uma reação combativa (certamente sem excluir essa possibilidade; Se apenas uma pessoa pegasse uma Kalashnikov, o segundo seria eu), não consigo encontrar outra solução, salvo um fim decente, antes de começar a procurar comida no lixo para se alimentar.
Creio que os jovens sem futuro vão pegar em armas e vão enforcar aos traidores nacionais de cabeça para baixo na Praça Syntagma, como os italianos fizeram com Mussolini em 1945, na Praça Loreto, em Milão”.
Hoje, quarta-feira, 4 de abril, às 18h, irá acontecer uma manifestação na Praça Syntagma, em Atenas. Na segunda imagem [em anexo] mostra o cartaz-chamada para a manifestação. Coloca os dizeres: "Não foi um suicídio. Foi um assassinato. Que não nos acostumemos com a morte”. Outras manifestações terão lugar em Tessalônica e Heraklion, em Creta.
Algumas semanas atrás escrevemos que nos tiram os salários e pensões, nos estão tirando a própria vida. Não era uma metáfora. A pessoa que cometeu suicídio na praça principal de Atenas foi um dos muitos casos que justificam esta constatação. Poucos dias atrás uma pessoa idosa tirou a vida na ilha de Zante, deixando uma nota que dizia: "Não quero ser um peso para os meus filhos". Muitos suicídios não estão vindo à luz do dia. O capitalismo já nos mostrou a sua verdadeira face há muito tempo.
Eles estão matando nossos sonhos, estão saqueando nossas vidas, estão matando seres humanos, próximos a nós. Tens as mãos manchadas com sangue, mas enchem os cofres fortes, os seus e os de seus patrões. Conduzem as massas à miséria, mas... nos estão "salvando". Eles disparam contra nossas vidas, mas... nos prometem um "futuro melhor". O Capital e o Estado nos levam a miséria, a indignação, a morte. Não podemos permanecer passivos, contemplando-os nos executando a sangue frio! Não podemos ficar de braços cruzados e que os vejamos nos matando, roubando-nos a vida, nos matando diariamente. Precisamos de mais exemplos marcantes para fazer o que nos incita a fazer o aposentado² que se viu forçado a cometer suicídio em frente ao Parlamento? Não só os oprimidos no território do Estado grego. Os oprimidos de toda a terra.
PS: Este não é momento adequado de dedicar tempo para criticar ou analisar as lágrimas de crocodilo derramadas pelos políticos e os meios de desinformação.
[1] Primeiro-ministro grego, nomeado pelas forças de ocupação alemãs durante a ocupação do país pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial.
[2] Claro que não estamos de acordo com os traidores nacionais. No entanto, todos entendemos a mensagem e a interpretamos de diferentes maneiras...
agência de notícias anarquistas-ana
a chuva cai forte
e os ruídos que sobem
corroem meus olvidos
Thiago de Melo Barbosa

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