segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Eu imploro, salvem as baleias!

Você já deve ter sido atingido pela enorme publicidade em torno da paisagem paradisíaca de Fernando de Noronha. O que você, turista em potencial, mal pode imaginar é que tem muito mais em Fernando de Noronha do que pode supor sua vã filosofia, para parafrasear Shakespeare.
Com o intuito de transformar Fernando de Noronha em um paraíso de todas as espécies, cada organização faz sua parte. O projeto TAMAR tem se esforçado para salvar as tartarugas marinhas, tão inegavelmente vítimas da ação predatória do homem. E este projeto tem tido um relativo sucesso, à medida em que 900 mil filhotes de tartarugas marinhas foram protegidos ao longo de sua história.
Nadando ao sabor desta corrente, há o Grupo Baleia Jubarte que, como o nome sugere, dedica-se à proteção da Baleia Jubarte (ou baleia corcunda, como pode ser chamada) que também povoa a região. Este grupo recebe, inclusive, o apoio de poluidores seduzidos pela ideia de redenção, como a Petrobrás, por exemplo.
Este post, no entanto, não irá se dedicar ao óbvio. O leitor não merece ler linhas mal escritas sobre um tema tão corriqueiro na mídia. Portanto, este post se dedicará à reflexão acerca da condição de uma espécie cuja sobrevivência, por algum motivo, parece não receber tanta atenção em Fernando de Noronha e, na verdade, em parte nenhuma do mundo: o homem, a quem salvar (ou ao menos tentá-lo) é tão demodé.
A dura realidade desta espécie foi esmaecida pela antropomorfização das outras espécies em filmes e desenhos animados. Talvez seja porque Hollywood te convenceu que o Free Willy podia sentir saudades do solitário Jesse que você tenha passado a amar a vida marinha.
Por contrariado que você fique, não é absurdo supor que a preguiça do Pica Pau, o derrotismo do Tom, a bravura do Jerry e o medo do Scooby-Doo, tão humanamente representados, tenham contribuído para a formação da mentalidade que se tem acerca de um animal e, num discurso mais abrangente, do meio ambiente na sociedade de hoje. O problema é que todos estes sentimentos foram forjados no âmbito da irracionalidade: a preguiça do Pica Pau é economia de ATP, comum a todos os animais; o Tom não é malvado e não merece vassouradas por querer comer o Jerry. Aquilo é um trecho da cadeia alimentar e a energia do Jerry é necessária para a manutenção das funções vitais de Tom. O Jerry, por sua vez, não está sendo herói ao praticar um sadismo "bom mocista" contra seu algoz. A função biológica dele é nascer, crescer e se reproduzir para, então, morrer e ele irá lutar para sobreviver, assim como Tom o faz ao querer se alimentar. Por fim, o Scooby-Doo (ou qualquer outro mamífero canídeo que o valha), quando amedrontado, pode ser agressivo e vir a dilacerar até mesmo aquele lindo rosto da criança branca de olhos claros da propaganda de creme contra assaduras e não se contentar em largar aquele crânio perfurado nem mesmo por um "delicioso biscoito Scooby".
Talvez, ao fazer um esforço para se libertar destas ideias românticas que lhe foram incutidas ao longo dos anos, você perceba que, no mundo real, as coisas são assim. Uma decaptação aqui, uma amputação ali e assim é feita a história das espécies.
Este exercício é necessário. É necessário para que se entenda que entre Chevron e Capitão Planeta há tanta distância quanto pode haver entre ser um juíz de direito e um catador de latinhas no Brasil. E os benefícios de se manter distante de um comportamento "à Chevronesa" são indiscutíveis. Não polua rios, você não ganha muito com isso (a menos que você seja proprietário da Ypê), mas daí a transformar o meio em prioridade em detrimento do indivíduo é um absurdo que pode ser muito bem ilustrado mas, infelizmente, não se resume com a história social de Fernando de Noronha, onde as pessoas são impedidas de coisas cuja necessidade é inquestionável, como a troca de um vaso sanitário, para citar um exemplo pouco corriqueiro. Em um lugar onde tartarugas, baleias e vegetais têm tanta prioridade, parece que alguém foi esquecido e, nesse caso, você pode acreditar na saudade, no desespero, no desamparo...

Assista ao vídeo:


E depois reflita. Não há dúvidas de que o planeta precisa ser salvo. No entanto, antes de juntar os anéis de água, fogo e ar, abaixe o vidro escuro do carro e compra um drops, tio. É pra ajudar minha mãe, compra aí, vai Planeta!





2 comentários:

  1. Você sabe que não estou escrevendo isso pra avacalhar, já discutimos muito sobre o tema e nunca chegamos a lugar nenhum...

    Talvez a solução seja mesmo uma grande epidemia causada por uma suposta bactéria capaz de manter algumas funções vitais básicas do corpo humano em funcionamento mesmo após a morte, sendo que, esta bactéria supostamente se espalharia entre os seres humanos através da saliva, ou seja, da mordida de alguém contaminado (provavelmente já morto e sob controle da tal bactéria) em alguém são.

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  2. "Nunca chegamos a lugar nenhum" é ignorar a possibilidade de transformação pela reflexão... Eu acho que sempre chegamos a algum lugar, embora não seja um lugar onde algum dos dois pretendam!

    #loucospordr

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