sábado, 25 de junho de 2011

Homofobia, racismo, machismo... preconceito linguístico????

Não sei se acompanharam todo o escarcéu que a mídia fez em torno do novo livro didático que o MEC lançou. Antes de tudo,quero esclarecer algumas coisas sobre a polêmica.
Primeiramente, é um livro para EJA (Ensino de Jovens e Adultos), pessoas que já falam há algum tempo com certa, digamos, fluência. Para aqueles que dizem no Jornal Nacional O NOVO LIVRO VAI ENSINAR AS CRIANÇAS A FALAREM ERRADO! (leia-se William Bonner), cuidado: não, não é para alfabetizar crianças, primeiro ponto; não, não vai ensinar ninguém a falar aquilo que já sabem falar, pois a variante popular é ALGO QUE EXISTE E VAMOS TRATÁ-LA SEM HIPOCRISIAS. Terceiro ponto: está na hora de acabar com esses preconceitos linguísticos e começar a tratar a variante popular como uma VARIANTE, e não como um ERRO. Não, não existe certo e errado na fala; toda forma de comunicação que funcione é válida (notem que não estou falando de escrita).
A fala que é considerada a culta, a "norma padrão", é aquela imposta pela elite paulista-fluminense para todo o Brasil, e tudo o que fuja de todos os "esses [S] bem colocados" e "perfeitas conjugações verbais" é estigmatizado e considerado "errado". Sim, é importante ter uma padronização ESCRITA a nível jurídico, e até para ensinar essa língua a estrangeiros, para haver certa homogeinização que, não vou negar, é necessária. Mas a língua é uma coisa viva, e ela NÃO EXISTE SEM FALANTES. Não é a língua que se impõe, são as pessoas que falam que decidem como usá-la. Se eu falo "os menino foru na fera" e vc me entendeu, onde está o erro? Nosso querido Caetano Veloso diz que queremos imitar os americanos, que não colocam plural nos artigos, mas fizemos invertido, pois não colocamos plural no substantivo!!! Ouvi ainda de certa professora unespiana que "já que soltaram esse livro, não me venham dizer que só a elite vai falar CERTO agora", agora que "está se fazendo apologia à fala popular", agora que só ricos falam como ricos. As pessoas querem parecer democráticas, mas acabam é sublinhando cada vez mais a diferença entre a fala da elite e a fala do povão, né! Não podemos negar que impor a fala da elite é outra forma de imperialismo, e que algumas pessoas defendem com unhas e garras.
Bem, voltando ao livro didático... há nele UM CAPÍTULO que trata da variante popular da língua, admitindo sua existência, sua riqueza e dando exemplos de como aparece no nosso dia a dia. PORÉM, diz que há ambientes adequados e inadequados para seu uso. NADA MAIS DEMOCRÁTICO do que, agora, afirmar uma identidade popular, que não possui somente dança própria, culinária própria, música própria: possui também uma linguagem própria, que não deve ser suprimida pela norma culta padrão que definitivamente NÃO EXISTE NA FALA. Nem paulistanos, nem gaúchos, nem cariocas falam exatamente como pede a gramática normativa. Que bom, prova que a nossa língua ainda existe, está em constante modificação, não adianta querer que toda a população fale latim arcaico, pois ainda assim ele apresentaria variantes regionais, geracionais, culturais. TODAS AS LÍNGUAS possuem variedades na fala. E pasmem: as colônias são muito mais conservadoras se tratando de linguagem do que as metrópoles.
Sim, PRECONCEITO LINGUÍSTICO EXISTE. E torno a dizer, assim como é HIPOCRISIA dizer que não existe preconceito racial, apenas social, é hipocrisia dizer que o novo livro fará apologia à fala popular. Língua é expressão, é liberdade de pensamento. Como ser libertári@ se não consigo ser livre nem no uso de minhas palavras?

2 comentários:

  1. No doc. do Darcy Ribeiro - O povo brasileiro - onde se fala da cultura caipira (que é motivo de risos também, né não?) a linguagem caipira de hoje foi a linguagem culta de uma época. Isso mostra que a linguagem sofre mutações e não há nada de errado nisso, ou vosmecêis num concorda cum eu?

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  2. [tio.taz] putz, tenho um livro sobre preconceito linguístico que tá *mto longe* e que usa uma metáfora ótima: nossa língua falada no dia a dia é um rio que corre a toda velocidade, a água se reciclando e etc... a norma culta é um aguapé, um buraco na margem onde muita água fica ali parada, apodrecendo...

    muito bom o texto, mesmo!

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