Os métodos de ação promovidos pelo front são muitas vezes questionados tanto pela grande mídia, quanto pela sociedade no geral...
Fica aqui o relato de um ativista pra que possamos entender o outro lado da questão...
e que cada um tire as conclusões que lhe forem cabíveis....
Lobo Solitario…
Em 30 de abril de 2010, às 3h30 da madrugada queimei a fábrica de pele de ovelhas de Denver, no Colorado, até tudo se transformar em cinzas. Fiz seguindo rigorosamente as normas de atuação da Frente de Libertação Animal (FLA), certificando-me de não prejudicar qualquer ser vivo e ao mesmo tempo causando o maior número possível de perdas econômicas para um negócio relacionado com a exploração animal. Usei o pseudônimo de “Lobo Solitário” em meus comunicados à imprensa, mesmo sabendo que fazendo isso poderia facilitar às autoridades no momento de relacionar minhas ações. Fiz isso por uma razão específica em que aprofundarei neste artigo um pouco mais adiante, mas por agora, deixe-me dar uma olhada para trás e explicar como eu acabei entrando na Frente de Libertação Animal.
Minha participação no movimento pelos direitos dos animais ocorreu há cerca de 14 anos atrás. Eu somente só colocava panfletos sobre vivissecção, veganismo, fazendas-indústria e outras formas de maus tratos aos animais nos pára-brisas dos carros e nos quadros de anúncios. Me entusiasmava poder educar as pessoas. Havia trabalhado construindo matadouros, e acreditava que se todo mundo soubesse o que eu tinha conhecido nesses locais passariam a ser vegans. Após um ano panfletando muito, minha militância foi interrompida por uma pena de prisão relacionada a um incêndio (este delito não tem relação com a libertação animal, mas também procurei não prejudicar nenhum ser vivo). Durante os quatro anos da minha prisão estudei sobre os direitos dos animais, biocentrismo, filosofia, história do mundo, evolução, religião, mitologia, lei, movimentos de justiça social, política, sociologia… Eu lia tudo o que caísse em minhas mãos e não fosse ficção.
Em qualquer caso, depois da minha saída da prisão e ao final da minha liberdade condicional, eu me mudei para Denver, no Colorado, a cidade onde eu tinha passado a minha adolescência. Tinha um par de bons amigos que ainda moravam nos subúrbios do norte, e também uma tia e alguns primos que moravam lá. O ano era 2003. Já havia assumido que não era falta de educação o que fazia que continuasse a crueldade contra os animais, já que vários grupos de ativistas haviam feito e exibido tantos vídeos onde mostrava a crueldade dos laboratórios de vivissecção, matadouros… Tampouco era um problema relacionado com a distribuição dessas imagens. Com o crescimento meteórico da Internet, qualquer pessoa que queria saber quem estava por trás da produção de seu “alimento” poderia saber com o clique de um botão.
Eu falei com suficientes pessoas para perceber que nem todo vegan se preocupa com as coisas vivas. Há muita gente que não dá a mínima aos animais, apenas tem fetiches com certos cães e gatos, e outros não podem ouvir falar de não comer os cadáveres dos animais mortos. Durante esse tempo, conheci muitas pessoas indignadas comigo, por que eu estava trazendo estes fatos à luz. Aparentemente, se você apóia a morte e a escravidão três vezes ao dia não é problema, mas se eu falar sobre tudo isso, então eu sou um imbecil. Eu decidi então voltar a minha atenção para os próprios animais.
Eu não posso dar muitos detalhes sobre esses anos, já que salvar animais da tortura e da morte é considerado um ato de terrorismo pelo governo dos Estados Unidos. Mas eu vou dizer uma coisa: quando você assume o risco de salvar um animal de uma morte horrível e olha nos seus olhos e vê a sua gratidão e amor, isso muda você. Neste mesmo dia você se torna uma pessoa melhor e, novamente, será capaz de distinguir entre o que é certo e o que está errado com a mesma simplicidade com que você fazia quando era uma criança.
Comecei a me envolver com a comunidade vegan local. Fui convidado para uma reunião em que, imediatamente, me senti fora de lugar. A comunidade vegan de Denver tinha uma diversidade semelhante ao de um congresso da Ku Klux Klan. Tinha estado a trabalhar em tempo parcial com uma organização abolicionista dos direitos dos animais, cujos principais objetivos eram a promoção do veganismo e informações sobre os animais de fazenda, especialmente os chamados “criadouros ao ar livre” ou “criadouros sem jaulas”. A noite avançava e muitos desses hipócritas começaram a deixar escapar seus pontos de vista, na medida em que a quantidade de cerveja era consumida. A próxima coisa que aconteceu foi uma espécie de patética reunião de palavras rápidas, onde todos estavam em um círculo e rapidamente se apresentavam, diziam em que trabalhavam e o que faziam para os animais. Eu nunca tinha visto uma exposição de egoísmo intelectual semelhante.
Chegou a minha vez, e eu mencionei a minha posição contra o negócio de “criadouros ao ar livre”. Então eu comecei a notar os olhares estranhos e ouvir comentários que “criadouros ao ar livre” era “um passo na direção certa” e que “Roma não foi construída em um dia”, inclusive ouvi alguém dizer: “Eu sou vegana, mas fico feliz que aqueles que comem carne têm agora uma alternativa solidária e livre de crueldade”. Ao que eu respondi: “Não posso acreditar no que estou ouvindo, um grupo vegan promovendo o uso de animais!?”. Depois disso, começou uma grande discussão e eu saí daquele encontro com a firme determinação de sacar a luz à verdade sobre os “criadouros ao ar livre” e de educar todo o mundo novamente. Só que desta vez com mais entusiasmo e vigor do que nunca.
Comecei a distribuir panfletos por toda Denver sobre “criadouros ao ar livre”, também deixava em milhares de limpadores pára-brisas, até meus dedos ficarem machucados de tanto levantar e baixar os pára-brisas. Coloquei mesas de informações em uma série de eventos e conversei com centenas de pessoas. Fui a uma série de concertos de punk e hardcore para tentar recrutar mais jovens. Comecei a criar as bases para um grupo que chamei de VFL (Vegan For Life- Vegan Pela Vida.). Em suma, fiz tudo que estava ao meu alcance para dar força, motivar e promover a libertação dos animais, mesmo no trabalho. Naquela época eu era gerente de alimentos em uma loja local de alimentação saudável. Levo a palavra “Vegan” tatuada em meu pescoço, e falava com qualquer cliente que me perguntasse sobre isso, e garanto-lhe que era bastante gente.
Durante algum tempo eu tive um blog no qual escrevia artigos e tentava reanimar e revisar a filosofia vegan radical. Mas quanto mais eu fazia, mais minha frustração crescia. As pessoas com quem eu falava quando colocava as mesas informativas escutavam tudo o que eu dizia sobre vacas sendo violadas para obter leite, seus bebês mortos, sobre a forma como as mesmas vacas acabavam finalmente mortas para fazer hambúrguer e couro. Essas mesmas pessoas, depois me olhavam sem ter entendido nada e me diziam: “Cara, eu não posso deixar o queijo. O queijo é tão bom…” Às vezes retornava ao lugares onde eu tinha deixado meus panfletos e via que a metade deles tinham sido atirados ao chão.
Todas as pessoas metidas no punk rock pensavam que comer carne era muito bom, contanto que a tirassem do lixo, e o povo do hardcore e os straight edges estavam mais interessados em praticar passos de dança e jogar videogame que colocar em prática suas crenças. Me enchi de tudo isso.
Os novos amigos que tanto gostava de falar sobre o quão bem nós fazíamos por ser vegans e quão errado era o resto do mundo e blablablá… Fiquei puto de tudo, me chateavam tanto os vegans pretensiosos como qualquer outra pessoa. Por alguns meses tudo que fiz foi trabalhar e mais umas coisinhas. Eu estava deprimido, me sentia marginalizado e impotente. Comecei a sonhar acordado no trabalho com o que eu podia fazer se não tivesse medo, se não tivesse nada a perder. Se isso ocorresse podia ser um membro do movimento clandestino, podia ser um ativista da Frente de Libertação Animal. Quanto mais eu pensava nisso, mais feliz eu ficava. E um dia, no trabalho, uma idéia martelava na minha mente: qual o melhor momento para fazer coisas que o presente. Deixei o meu emprego e minha vida normal.
A primeira coisa que eu fiz foi trabalhar sozinho. Conhecia e tinha estado com vários ativistas locais e não houve ninguém que considerasse adequado para isso. A próxima coisa é que faria algo grande. Com a repressão que o governo aplica atualmente a qualquer campanha efetiva pelos direitos dos animais, decidi arriscar. Se vão me capturar e chamar de terrorista por quebrar a janela de um McDonalds, pensei que, então, deveria pensar grande.
Eu escolhi a fábrica de pele de ovelhas de Denver, por duas razões. A primeira era porque eles faziam um monte de dinheiro vendendo couros. Os animais sofrem e morrem para que as pessoas tenham uma cobertura de assento agradável e bonita para suas motos. Na minha opinião, não são melhores do que os nazistas que faziam sabão e artesanato com os cadáveres dos judeus. O segundo motivo era porque o local parecia bastante inflamável. Nunca divulgarei como eu fiz tudo, porque não é importante, mas onde há um desejo, há uma maneira de realizá-lo.
Depois de tudo dito e feito, eu me senti muito bem! Tinha destruído um centro de exploração de animais e custou à indústria mais de meio milhão de dólares em prejuízo. Eu usei o nome de “O Lobo Solitário da FLA” nos comunicados à imprensa para transmitir aos meus irmãos e irmãs da FLA ao redor do mundo (sejam eles quem forem) o poder de atuar sozinho. Queria que todo o mundo soubesse que uma pessoa sozinha pode conseguir um monte de coisas.
Desgraçadamente, me pegaram por causa de um sacana. O que mais me dói é ter confiado nessa pessoa. Mas os “princípios” ainda estão por resolver. Tudo o que eles fizeram foi manipular-me para dizer que a minha campanha de três meses tinha me custado 150 dólares, enquanto que os exploradores de animais tinham saído por três quartos de um milhão de dólares.
Em 11 de fevereiro de 2011, serei sentenciado. Seja qual for a sentença, é apenas um terço dos meus problemas. Eu ainda tenho que enfrentar outras acusações, em Utah. Os advogados dos Estados Unidos querem que as pessoas pensem que a Frente de Libertação Animal, e eu em particular, somos terroristas. Eu não sou um terrorista, e a FLA não é uma organização terrorista. Na verdade, nem é uma organização. A FLA é cada vegetariano ou vegan que não põem em risco nenhuma vida e decide, ilegalmente, liberar animais e/ou causar danos econômicos para aqueles que se aproveitam do uso e abuso de animais. Desde a sua criação em 1976, nenhum ser humano e nenhum animal foi danificado, muito pelo contrário. Milhares de vidas foram salvas e milhares de abusadores de animais foram interrompidos. Um terrorista é uma pessoa ou grupo que elege como objetivo, e assassina seres inocentes para criar pânico e para estabelecer o controle através do medo.
Em 30 de abril, às 3h30 da madrugada, minha vida mudou. Eu estava cansado de ver empresas baseadas na morte continuarem suas atividades sem problemas e decidi fazer algo drástico sobre o assunto. Tenho orgulho de ter agido em nome daqueles que não podem se defender a si mesmo. Posso olhar profundamente em meu coração e saber que não lhes faltei e que fiz tudo que podia. E acreditem, quando você vive em uma jaula é tudo que você espera que alguém faça isso por você. Liberação Animal, custe o que custar!
Você pode escrever para Walter no seguinte endereço:
Walter Bond # P01051760
PO Box 16700
Golden, CO 80402-6700
EUA
Site Animal Liberation Front:
http://www.animalliberationfront.com/
Vídeo sobre a atuação dos ativistas:
http://vista-se.com.br/btm/
Link para acesso da matéria na Revista Veja:
http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx
Não se criminaliza uma guerra onde há milhares de mortos, não se criminaliza o assassinato de milhões de animais para prazer humano, consumo de carne é banal. Mas o criminoso, ou terrorista, é aquele que age em prol à liberdade, não dele, mas do oprimido. E viva a revista Veja mais uma vez.
ResponderExcluir(se aumentasse a letra do texto ficaria melhor pra ler =)
pois é...
ResponderExcluiruma guerra em "defesa" de Estado que gera bilhões de lucros para industria bélica;
assassinato de milhões de animais em função dos lucros para a industria de alimentos;
tortura de animais em função dos lucros para a ind. farmacêutica (testes questionáveis e métodos substituíveis)...
Tudo isso é muito bem aceito...
A luta verdadeira por emancipação é crime... ética e legalidade não coexistem num mesmo espaço; são palavras antagonicas...
Engraçado é um país invadir outro causando danos catastróficos à população civil levantando a bandeira da liberdade (Liberdade de consumo, afinal, qual mais importa?)... Bom, aí tudo bem né... é a liberdade institucionalizada, dentro dos padrões legais...
O que mais me irrita é a maneira como esse tipo de ação é divulgada na grande mídia... mas, pensando bem, não poderia ser diferente, né...
ps: tentarei aumentar a letra. Valeu pela dica ;)
Amanda.
A revista Veja não serve para nada, nem para ser usada no banheiro...
ResponderExcluir"Faça o que puder, faça o que deve fazer: ser guerreiros vegans e verdadeiros defensores dos animais, e nunca se comprometer com seus assassinos e especuladores. A Frente de Libertação Animal (FLA) é a resposta. Raramente houve um movimento de grande alcance e eficaz a nível internacional na história humana. Não podes se somar a FLA, mas então se converta nela. E é o de mais orgulhoso e mais poderoso que eu fiz. Ao sair desta sala hoje não fique consternado com a minha prisão. Toda a ferocidade e amor em meu coração seguem vivo. Toda vez que alguém liberta um animal e quebra sua gaiola, sigo vivo! Cada vez que um ativista se recusa a curvar-se às leis que protegem o assassinato, sigo vivo! E eu vivo cada vez que o céu a noite é iluminado pelas chamas de uma outra empresa exploradora de animais em ruínas!"
Walter Bond