sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Quando é que foi que o trabalho escravo deixou de existir no Brasil?

Um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão e sem querer, todo mundo acaba por descobrir que o capitalismo é uma prisão.

Dentre as funções do Ministério Público do Trabalho, podemos citar o combate ao trabalho escravo. Sendo essa uma de suas funções, podemos chegar a uma conclusão rápida e obvia... O trabalho escravo existe, não só na Tailândia, na Indonésia ou em outro país que você pode descobrir olhando para a etiqueta na língua do seu tênis (ou na do meu), ele existe no Brasil e INCLUSIVE em São Paulo.

Você pode confirmar esta informação clicando AQUI

Segundo o Ministério Público, são consideradas trabalho escravo  as situações em que "os obreiros são submetidos a trabalho forçado, servidão por dívidas, jornadas exaustiva ou condições degradantes de trabalho, como alojamento precário, água não potável, alimentação inadequada, desrespeito às normas de segurança e saúde do trabalho, falta de registro, maus tratos e violência."*

Na minha visão, somos todos nós, trabalhadores, submetidos ao trabalho escravo, em maior ou menor grau. Em maior grau são os que se vem forçados a continuar a trabalhar em condições deploráveis, pois, disso depende sua vida. E nós, em menor grau, pois, nos vemos forçados a continuar a trabalhar, pois, disso depende a vida a que consideramos indispensável.

Podemos combater a escravidão tentando pelo menos desescravizar a si mesmos. Tendo consciência de que quando compramos soja, estamos comprando trabalho escravo, quando compramos café, sustentamos essa prática, camisetas na promoção? Escravidão. E carvão então! 

Para nos libertar e libertar aos outros, não adianta substituir produtos, precisamos reduzir o consumo.

14 comentários:

  1. [tio.taz] Fantástica postagem. O trabalho escravo está aí tanto na sua forma "nua & crua" como também está aí travestido na ideologia do "trabalhe em qualquer coisa, pois isso é o certo": quantas pessoas não estão aí sacrificando suas vidas para ganhar o suficiente para continuar trabalhando?
    aluguel do barraco: 250 reais
    agua e luz: 150 reais
    pagamento da milícia: 150 reais
    gastos com comida: 250 reais
    ganhar 600 reais para ser "mágico": não tem preço.

    existem coisas que o dinheiro não compra, para todas as outras existe ideologia dominante.

    --

    e o post acabou com chave de ouro: "não adianta substituir produtos, é preciso diminuir o consumo" - slap!

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  2. Não basta diminuir o consumo, é preciso abolir a produção.

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  3. É diminuir o consumo é um ótimo começo... mas é SÓ o começo!

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  4. Diminuir o consumo não extingue o consumo, portanto substituir produtos também é válido nessa etapa. Não dá pra deixar os dois em separado, mas unir as duas idéias.

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  5. De acordo com esse raciocínio, se o eco-capitalismo também não resolve o problema como um todo, por outro lado também poderia ser válido, "um bom começo", como dizem. Alguns paliativos,além de não resolver o problema de uma vez, só melhoram os efeitos enquanto pioram as causas. Não é possível extinguir o consumo, mas sim o consumismo. E o mais importante talvez seja o produtivismo, e não o consumismo.

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  6. [tio.taz] buen, essa discussão me parece muito interessante! tenho uma idéia do que posso responder nesse tópico, mas sei que ela está em mutação... concordo em partes com todxs... o que significa que discordo de partes do todo.

    Janos, como pensa a abolição da produção?

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  7. O post fala de trabalha escravo. Concordo com a parte que diz: "Na minha visão, somos todos nós, trabalhadores, submetidos ao trabalho escravo, em maior ou menor grau. Em maior grau são os que se vem forçados a continuar a trabalhar em condições deploráveis, pois, disso depende sua vida. E nós, em menor grau, pois, nos vemos forçados a continuar a trabalhar, pois, disso depende a vida a que consideramos indispensável."

    Isto responde a pergunta. Vivemos num modo de vida baseado em produção e consumo. A produção acaba quando deixamos de depender dela, quando não nos interessamos mais em reproduzir este modo de vida. Quando a vida depende de um trabalho sem sentido, a vida perde o sentido. A vida nesta sociedade é morta porque o trabalho é morto. O problema é que mesmo os escravos ainda valorizam o trabalho morto e o modo de vida morto-vivo. Vários grupos indígenas americanos não puderam ser escravizados justamente porque lhes faltava isso: a crença neste modelo de produção e consumo. Infelizmente, os povos africanos já tinham essas crenças, e por isso eram "bons escravos". Em resumo, por mais estranho que pareça, para acabar com o produtivismo é preciso se livrar de uma crença civilizatória.

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  8. Só um adendo: se trata de uma crença cultural, não uma crença individual, é claro.

    Por isso me preocupei no ouro post, que falava da importância de sermos livres na internet. Computadores são feitos com coltan, que é minério extraído quase sempre com trabalho escravo e enormes danos ao meio ambiente. O fim do trabalho escravo no Brasil, por mais possível que seja, representaria pouco em vista do tamanho do problema que é nossa aceitação da visão civilizada de mundo.

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  9. [tio.taz] buen, condiz com a perspectiva que carrego... enquanto trabalharmos "na lógica deles", não importa o quanto pensemos num mundo diferente, sempre será o mundo deles que estará sendo desenvolvido, e nós sendo submetidos a eles.

    soldamos as correntes que nos aprisionam.

    Outra lógica, outras ações, outro(s) mundo(s). Estamos recusando porquê?

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  10. É uma boa pergunta. A resposta que eu tinha era: porque não aprendemos a pensar diferente. Não entendemos outra lógica, não vemos outras ações possíveis, não enxergamos outro mundo. Temos medo de que, ao fazer isso, percamos o pouco que temos.

    Porque um escravo trabalha? Por que valoriza sua própria vida acima da liberdade. Prefere viver de joelhos que morrer em pé. O que eu disse são belas palavras, mas quem te coragem de aplicá-las?

    Não quero ser hipócrita. Se o trabalho é um mal necessário, tenho que trabalhar. Mas uma coisa é se submeter ao trabalho, outra é valorizá-lo. Para que haja escravos é preciso haver donos. E todos os donos que estão vivos hoje morrerão. Antes disso provavelmente não mudarão. Mas os que estão nascendo hoje estão sendo, em grande parte, criados para ser assim, e são ensinados a ser assim por escravos, que são os professores.

    Se algo pode mudar, começa na educação.

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  11. [tio.taz] estou na mesma brisa!

    mas deixei de acreditar na educação como o ponto de início quando fui à sala de aula. comecei a enxergar muitos pontos de inicio e de suspensão, e acho que o mais importante eu estou enxergando agora, mas ainda não posso falar muito sobre ele.

    No entanto, sei que qualquer ponto de mudança para um mundo ainda "invisível" e "incompreensível" passa pelos passos curtos em busca de uma nova ética. Cada indivíduo troca com o outro, julga e se rejulga no processo. O ideal é eliminar as incoerências, mas sabemos que é impossível.

    O importante não é chegar, mas caminhar. Até porque a cada passo, novo horizonte.

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  12. Já tive uma experiência à frente de uma sala de aula, e também não acredito nesse tipo de educação. A escola se tornou a maior barreira ao aprendizado e ao pensamento crítico. Mas ela continua sendo o palco da grande guerra mental.

    Concordo em atingir uma mente de cada vez.

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  13. ‎"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar". Eduardo Galeano

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  14. [tio.taz] a escola, pelo menos para mim (taz) é só mais um campo de batalha, e como já afirmei outras vezes, espero que vão lutar nesse campo os entusiasmados - e não os necessitados pelo emprego (afinal, trabalho não é pelo que te pagam, mas pelo que vc se vende). Maior palco de guerra mental nesse momento, para mim, é a rua - sequestrar a atenção das pessoas para outras possibilidades será sempre uma tarefa dificil...

    enfim, ainda tenho muito que pensar. essa discussão caiu muito bem porque resumiu um pouco do que estou pensando ultimamente!

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