quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Quanto custa a sua liberdade?


A julgar pela letargia que domina a sociedade ocidental contemporânea, parece que os indivíduos dão, cada vez, menos valor à própria liberdade... Mas não à dos outros!
Em 2012, será votado pelo Congresso estadunidense, um projeto que é fruto de um lobby da indústria cinematográfica e fonográfica - o Stop Online Privacy Act (ou SOPA).
Se aprovado, o projeto irá imputar responsabilidade solidária aos meio utilizados pelos usuários para propagar material protegido por Copyright. Trocando em miúdos, isso significa que o Youtube, por exemplo, pode ser retirado do ar se for encontrado algum material protegido por copyright, postado por qualquer usuário.
Não seja ingênuo, as grandes corporações (como a Google, detentora do Youtube) não serão prejudicadas e os mecanismos legais para livrá-los da punição já estão previstos: caso seja colaborador da justiça, delatando o emissor do material protegido, a empresa fica imune à punição e o usuário responderá por crime previsto pela violação de direitos autorais, vulgo crime de pirataria.
Não importa o que você tem a dizer, não importa o que é arte. O que importa é que, para que você tenha acesso à cultura e conhecimento, algum barão está perdendo parte de seu conforto. Por isso, as coisas devem continuar como são: o mosquito não engole o boi e é a mosca que senta na sopa. O contrário disso incomoda e a revolução comportamental trazida pela internet, incluindo o âmbito das relações de trabalho e da partilha, não é interessante para o capital.
Assim, o império, mais uma vez, entra em campo, invertendo a ordem de prioridades e, para variar, jogando SOPA na sua mosca!

12 comentários:

  1. E ainda ouvimos dizer que a Internet não revolucionou pocilga alguma.

    Antes que percebessem disso, os anticorpos foram lá e.... Fagocitaram-nos...

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  2. Olá,

    Me permitam ser chato e perguntar o seguinte: a internet não depende do capital para existir? Como pode o capital ser contrário à revolução comportamental e à liberdade de uso da internet? Penso eu que apenas os dinossauros capitalistas tem alguma coisa contra, porém sem a influência de capitalistas visionários a internet não seria nada. E não estou de modo algum defendendo o capitalismo. A questão é que não consigo ver o desenvolvimento da internet necessariamente como um avanço para as relações humanas. Ele está muito mais relacionado com uma ideologia capitalista e uma cultura global do que qualquer outra coisa. Claro que é uma revolução, mas o capitalismo também precisa revolucionar-se a si mesmo. Será que a liberdade que queremos é a liberdade de postar conteúdo na internet e ter acesso a eles? Não me entendam mal, também sou completamente contrário ao copyright, mas apenas um terço da população brasileira tem acesso à internet, e quando a usa, em grande parte é para buscar por entretenimento.

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  3. Janos, perguntar e participar dos debates aqui não é, de forma nenhuma, ser chato. Sinta-se à vontade sempre. Assim, todos temos a crescer!

    Vamos aos pontos. A internet, como fonte de propagação mercadológica (ou como a conhecemos) precisa do capital para existir, mas acredito que possa existir para além dele. Essa lei (a SOPA) é uma realidade no senado estadunidense e visa proteger a propriedade dos mais atingidos com a proliferação de dados pela internet (indústria do cinema, da música e de software).
    Eu acho que "relações humanas" é um termo um pouco abrangente e realmente queria que vc definisse bem o campo ao qual você se refere.
    Sobre a liberdade... Eu acredito na importância da liberdade de expressão, independentemente do meio o qual ela se dá e, nesse sentido, sou defensor da liberdade de postar ou ter acesso ao conteúdo que me apeteça.
    Na verdade, mais de 40% dos brasileiros têm acesso à internet, mas não é este o ponto que quero me apegar para o debate. Perceba que a internet não é, de forma nenhuma, a salvadora da sociedade capitalista. Ela não tem (e nem pretende) a solução para todos os problemas sociais. Ela é UM fator de contradição dentro modo capitalista de produção e, por hora, o mais acessível, dentre os meios de comunicação em massa.
    Eu fui lido por você, você foi lido por mim e estamos debatendo um assunto de suma importância para as gerações futuras. Isso não acontecia quando a televisão era o único meio de comunicação de massa. Já é esgotado, mas não custa lembrar as manipulações das eleições de 89, o esforço para o controle das massas durante o regime militar, etc. Nesse sentido, a internet trouxe-nos avanço. O nosso papel enquanto militantes deve ser, ao meu ver, propagar informação para o despertar de um povo de forma que o avanço trazido no âmbito da comunicação, traga-nos avanços em outros aspectos, como o político e o social.

    Saudações!

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  4. Sobre a capitalização da internet (que nem sempre foi aliada ou motivada pelo capitalismo) , eu estou trabalhando na tradução de um artigo, infelizmente a lentos passos... De qualquer forma, segue o link do original:

    http://monthlyreview.org/2011/03/01/the-internets-unholy-marriage-to-capitalism

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  5. Baader,

    Acho que a internet pode existir para além do capital, mas também acredito que coisas piores que o capital também podem existir para além do capital. Quando eu falei de relações humanas (ou melhor, de "avanço para as relações sociais") eu me referi ao que você chamou de "revolução comportamental trazida pela internet, incluindo o âmbito das relações de trabalho e da partilha". Não vejo nenhum avanço nas comunicações só porque podemos nos comunicar mais, já se comunicar mais não significa se comunicar melhor. De que adianta podermos conversar com várias pessoas se não temos nada significativo para dizer? Simmel já tinha falado sobre isso: "O êxtase das pessoas para com os triunfos do telégrafo e do telefone geralmente leva-as a desconsiderar o fato de que o que realmente importa é o valor do que se tem a dizer (...)" (SIMMEL, 1990, p. 482).

    Eu creio que internet é parte de um processo que contribuiu com a perda de qualidade na comunicação. Ela é uma exigência desse processo. Liberdade de expressão não tem qualquer valor em si mesma.

    É verdade que mais de 40% dos brasileiros tem algum acesso à internet, e que esse número tende a crescer. Mas qual o tipo de conteúdo acessado?

    Os próprios fundamentos da internet são criticáveis. Não concordo com Pierre Levy e outros entusiastas da internet. Acho que eles são cegos para o fato de que o paradigma informacional é parte de um processo iniciado pelo pensamento técnico-científico intimamente relacionado ao capitalismo. A internet salva o capitalismo do seu próprio sucesso, não porque soluciona os problemas sociais, mas porque insere vende a ilusão de que podemos inserir um coração humano na máquina. O capitalismo vive de contradições. E isso que o faz avançar.

    Eu li o que você escreveu e você leu o que eu escrevi. Isso nos dá a ilusão de que estamos nos comunicando, quando de fato podemos criar inúmeras barreiras para a compreensão um do outro. Mas já que podemos trocar mensagens, então ninguém pode nos acusar de sermos "autoritários". Mas o fato é que trocamos grandes autoritarismos por pequenos autoritarismos, ainda mais difíceis de derrubar. O fato de que podemos falar sobre assuntos importantes na internet não significa que faremos alguma coisa além de falar. E não significa que faremos alguma coisa realmente significativa, e principalmente, que faremos alguma coisa surpreendente e que não possa ser prevista. É assim que as massas são controladas hoje em dia. Você cria um meio de estudar seu comportamento, e então todos os seus movimentos se tornam previsíveis. Regimes ditatoriais já ficaram ultrapassados. Eles não são tão eficientes quanto este novo tipo de controle, possibilitado pela internet.

    Não vejo onde está o avanço. Propagar informação num meio que torna qualquer informação cada vez menos significativa? Quem está sendo despertado com isso? Despertado de que sono, e para que sono? Que avanços políticos e sociais você espera num mundo em que os termos "política" e "sociedade" se esvaziam de sentido na mesma proporção do acesso livre às "informações"?

    Também gostaria de oferecer um material para essa crítica. A interne não é neutra, ela possui um vetor. Este vetor é contrário a qualquer auto-crítica. Isso possibilita uma camada protetora mais inquebrável do que qualquer dogma. Recomendo o novo documentário do Adam Curtis, All Watched Over By Machines of Loving Grace.

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  6. Janos, eu acho que existe um grande erro entre aqueles que não consideram a internet como um importante passo no sentido da horizontalidade das relações e é preciso deixar claro: a internet é uma ferramenta e ela não tem a obrigação de resolver todos os problemas do mundo.
    O que se tem a dizer é o que se tem a dizer e não é a internet quem vai determinar isso. São escolhas ou condicionamentos que se nos apresenta para além da internet, geralmente, permeado por um teor classista.
    Se as pessoas buscam o facebook em detrimento de todo o conteúdo que a internet tem a oferecer - e falo isso como um usuário de tal-, não é a internet quem deve ser questionada, mas o comportamento das pessoas e o inegável esforço pela "causa" do entretenimento. Mas este esforço SEMPRE existiu numa sociedade hierarquizada: não havia internet na roma antiga, mas havia o circo que em nada devia às execuções em praça publica da Idade Média que, por sua vez, se assemelha muito com televisão na modernidade. Repare que a internet foi só mais uma ferramenta usada nesse sentido e é justamente para evitar que ela seja ferramenta da classe dominante que temos de ocupar este espaço que NENHUM outro meio nos deu.
    Ora, ninguém ousa negar que a televisão e o rádio estão inseridos na lógica do capital, tanto quanto a internet. Mas entre estes três, a internet é o único que não conta com o monopólio que a família Marinho conta nos dois primeiros e é a única através da qual eu consigo alcançar um número considerável de pessoas.
    Quanto ao conteúdo acessado pelos mais de 40% dos brasileiros, em um primeiro momento não importa. Importa que estas pessoas encontrem o que procuram, seja se expressar artisticamente, seja receber expressões de terceiros, seja um texto, um vídeo sobre política ou futebol, não importa. Importa que ela abre espaço para todos os tipos de pessoas! Na minha opinião, o problema em se preocupar com a qualidade do conteúdo acessado pode vir a se transformar em um policiamento ideológico que, sabemos, sempre foi utilizado em regimes totalitários. Se as pessoas não acessam meu conteúdo, devo reformulá-los de maneira a adequar às tendências, uma vez que a internet é um meio e não um fim. Não importa se com textos longos, se com discussões ou, ainda, com imagens (que são muito mais digeríveis, diga-se de passagem): o importante é que a internet possibilita que eu a passe.
    A chamada primavera árabe (que, aliás, foi possível, bem como a revolta inglesa deste ano, graças às facilidades das formas atuais de comunicação) desembocou na ingerência e espoliação da Líbia. Os aliados da classe dominante foram oportunos: sejamos nós também!
    Sobre os avanços políticos, há um post sobre o DemoEx. Embora não seja ideal, considero um avanço nesse campo. No âmbito social, acredito que os compartilhamentos ocorridos, se analisados sob uma ótica cautelosa, podem significar a ponta do que pode vir a ser um iceberg. Você já pensou que pessoas passam o dia subtitulando um vídeo ou "upando" uma música sem ganhar nada com isso? Já pensou que mantemos este blog e você mantém o seu sem nenhum interesse mercadológico?
    Não teremos paz, somos vigiados. Mas vivemos numa sociedade de classe e estamos submetidos às suas regras: a internet não é uma ilha da fantasia aos descontentes, é justamente um front, um espaço a ser disputado e as crescentes tentativas de cerceamento somente mostram a eficácia deste meio. O problema é que, por não respeitar a espontaneidade dos fatos, acabamos ignorando tudo aquilo que não tem um claro discurso que nos agrada.
    Quem, quando e PARA onde despertar as pessoas? Isso depende de quem publica o material. É muito claro que as grandes empresas querem distrair cada vez mais e as condições estão dadas. Cabe a nós, os descontentes, posicionarmos diante desta realidade...

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  7. Baader,

    Se eu partisse do seu ponto de vista, com certeza eu concordaria com você. Você tem a enorme vantagem de ser coerente com seu próprio sistema de crenças. Para resumir, eu vou ter que fazer comentários pontuais. Sem dúvida a internet promove a horizontalidade das relações. E a horizontalidade das relações, produz o que? Sem dúvida a internet é somente uma ferramenta, mas nenhuma ferramenta é neutra. Sem dúvida ela é um meio e não pode mudar nada por si só, mas por si só ela é uma mudança dentro de um processo que eu questiono. O meio é a mensagem. O teor classista ficou para trás, a questão agora é cultural. Se a internet é o circo da política de pão e circo, que diferença faz que o circo seja comandado por elites ou pelo povo, contanto que continue cumprindo sua função de circo? Eu te digo que o capitalismo só tem a ganhar com a liberalização da internet. Não o velho capitalismo, mas o novo, aquele que ainda está para nascer concretamente, mas que já estava sendo concebido nas comunidades ditas "alternativas" desde os anos 60. Foi daí que surgiu a internet. Ela é a plataforma para uma nova dominação, muito mais sutil, que em nada lembra o totalitarismo. O monopólio da informação pode ser abandonado como uma concha quando se encontra um meio de dominação mais eficiente. Algo nesse sentido foi ilustrado aqui: http://www.youtube.com/watch?v=zjiXkeVS4UI

    Que realmente importa se algo abre espaço para todas as pessoas? O mesmo se deu com a alfabetização e com o trabalho assalariado. Mudou alguma coisa, substancialmente, em relação ao que realmente deve ser mudado? O que mudou é que se tornou ainda mais difícil criticar a civilização, somente isso. A inevitabilidade desse processo dirigido pela tecnocultura se dá porque existe um interesse maior que a própria continuação do capitalismo, que é a perpetuação do modo de vida civilizado, com todos os danos que ele provoca.

    O problema em não se preocupar com o conteúdo que está sendo acessado, e simplesmente se entusiasmar com a possibilidade de acesso, é que essa é a ferramenta perfeita para um novo tipo de dominação, para a autoridade líquida e para o autoritarismo pulverizado. A internet foi criada para um fim, com base na crença de que esse fim serviria a um propósito positivo para a sociedade. A ilusão que temos a respeito da internet hoje é uma reedição da ilusão que tivemos no iluminismo: de que algo potencialmente emancipador estava surgindo.

    Para quem ainda acredita em democracia, a Primavera Árabe pode ter algum sentido. Para mim, se trata apenas de uma atualização dos sistemas de dominação. Os regimes ditatoriais são muito pouco eficientes. A internet teve um papel importante nesses acontecimentos. E estes acontecimentos, tem alguma relevância para uma crítica ampla do processo que gerou o capitalismo? Não vejo.

    Eu coloco muita coisa na internet, mas não espero que aqui seja um lugar livre. Se o mundo real não for livre, de nada adianta que o mundo virtual o seja. Do contrário lutaremos apenas lutas imaginárias, como aliás tem sido as manifestações promovidas graças à "facilidade de comunicação", pois não há como passar mensagens realmente importantes com rapidez, de modo massificado. O que é importante depende longa reflexão e de comunicação face a face. O que a internet faz é ocupar um espaço que poderia ser ocupado por ações realmente significativas, que não temos coragem de fazer.

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  8. Janos, eu compreendi suficientemente seu ponto. Esta discussão acabaria aqui, em função disso. Mas ela está interessante a ponto de ser um grande crime fazê-lo... rs

    A horizontalidade das relações, ao meu ver, produz uma experiência social que em nada tem a ver com o capitalismo e ela não vai, com certeza, produzir o final do capitalismo, mas pode contribuir para uma superação cultural das relações horizontais em certa escala e isso, por sua vez pode gerar fatores que contribuam com a criação de organizações horizontais (a própria produção já faz isso). Eu eu concordo que ela, a internet, é um processo de mudança DENTRO do sistema capitalista. Mas a formação do proletariado também não foi?
    Sobre a alfabetização, eu concordo que ela não trouxe a emancipação que as pessoas esperavam. Mas daí a ignorá-la? Quer dizer, a alfabetização não foi a solução. Seria o processo contrário a ela, então, a solução? Analogamente, a internet pode não ser a solução, mas a falta dela seria, então? Já vimos que não!
    Sobre os problemas gerados pela preocupação ou não do conteúdo acessado, mais uma vez: a televisão já foi utilizada para tal. A busca por distrair as pessoas é algo necessário. Agora, não se esqueça que Machado de Assis (e outro autores hoje consagrados), o samba, o candomblé, a capoeira e até mesmo Newton já foram perseguidos um dia. Ao classificar o conteúdo mais acessado como de baixa qualidade e, por isso, ser contundente em sua crítica a ele, em que você se diferencia das pessoas que perseguiram essas manifestações que tiveram papel fundamental na História? Veja, não que estes elementos puseram um fim ao capitalismo, mas a história não é feita só do que põe um fim ao capitalismo. Por que freá-la?
    Será, mesmo, que o facebook (ou qq outro site mais acessado) será tão insignificante na história? Será que a insígnia da foice e martelo (ou o discurso combativo, ou seja lá o que for) têm que estar presente em tudo o que pode trazer fim ao capitalismo? A espontaneidade dos acontecimentos devem ser ignoradas?
    E eu concordo com a sua crítica ao discurso que se tem em relação à Primavera árabe. De qualquer forma, talvez por ingenuidade, não posso deixar de ver beleza (e relativa esperança) no fato de os próprios manifestantes organizarem um cordão de isolamento em torno dos bens históricos egípcios, de forma autônoma, sabe? Quer dizer, foi um processo necessário ao desenvolvimento do capital, isso é um fato inquestionável. Mas não trouxe nenhuma experiência popular? Eu acho que sim. É necessário que se perceba que uma coisa é mais do que ela parece. É a complexidade da realidade!
    Por fim, acho que sua colocação sobre não termos coragem. Eu concordo plenamente. Mas, na Inglaterra, por exemplo, durante as convulsões sociais REAIS, a internet foi uma importante ferramenta de comunicação. A prova é que a censura foi implacável naquele momento...

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  9. Baader,

    Escrevi uma resposta longa, que o blog não aceita, e não consigo resumi-la mais do que já resumi. Então, tem alguma alternativa para continuarmos essa conversa?

    Abraços

    Janos

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  10. Cara, sempre temos... =)

    Pode ser por e-mail: hemanmail@gmail.com (tenho o gtalk por essa conta também, podemos ter um bate papo mais dinâmico e tals) e, como entusiasta das redes sociais, tenho o facebook. Mas não sei se você o tem...

    Forte abraço e te espero por lá... ;)

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  11. Obrigado. Eu prefiro por e-mail mesmo.

    Abraço

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  12. Baader,

    Enviei um e-mail com minha resposta longa, e vou tentar fazer uma resposta curta aqui, em respeito aos outros participantes:

    Eu não sou marxista e não acredito numa classe revolucionária. Não espero que o avanço do processo civilizatório traga condições para a superação do capitalismo. Quando eu penso em mudança não penso em "superação", que pressupõe continuação de um processo histórico dialético, mas em ruptura com o processo que gerou o capitalismo, e que poderia gerar algo ainda pior depois do capitalismo. É estranho, eu sei. O problema para mim não são as condições materiais mas sim o sistema de crenças.

    Não ignoro a internet, mas eu acho que há poucas pessoas criticando-a como um todo. A internet é um lugar muito mais propício para a proliferação de mentiras do que de verdades. Aqui as estruturas de poder não são tão sólidas ou tão visíveis, mas continuam existindo. As potencialidades de mudanças podem ser meramente ilusórias.

    Não estou perseguindo certo tipo de conteúdo somente por ser o mais acessado. Mas eu vejo mais potencialidade para alienação do que para emancipação na internet. O ideal de que uma nova sociedade poderia emergir a partir da rede de computadores veio da sociedade informacional. As redes sociais trouxeram mudanças que não foram tão "espontâneas" e "imprevisíveis" assim.

    A internet faz parte da história humana? Certamente não da história dos povos indígenas que tiveram suas culturas dizimadas para que pudéssemos extrair os meios materiais para alimentar a indústria de computadores.

    Não estou tentando frear a história, porque o avanço tecnológico da cultura globalizada não significa o avanço da história humana como um todo, e antes pode significar justamente o inverso. Enquanto cresce nossa liberdade relativa à internet, aumenta nossa dependência de um sistema tecnológico fundamentalmente comprometido com a cultura globalizada.

    O Facebook é significante para a história de QUEM? O problema não é ausência de criticidade na rede, mas que toda crítica ampla perde o sentido, já que a continuação do processo é tomada como necessidade absoluta. Podemos ter experiências populares excitantes e reais, mas qual o significado delas? Até agora não vi nada diferente de uma simples revolta de consumidores frustrados que ainda acreditam na democracia e estão acima de tudo preocupados com o bem-estar. Hoje em dia a censura se tornou nada mais que uma estratégia para que os manifestantes sintam que estão fazendo diferença. Governantes espertos sabem que é impossível conter uma sociedade individualizada. O Estado não tem poder para fazer coisa alguma contra as explosões populares. O que acontece é uma encenação. Não há crítica aos fundamentos desse modo de vida insano, somente ao modo como ocorre o processo de inclusão e exclusão. Somos como os passageiros do navio de tolos, preocupados com liberdades individuais enquanto continuamos rumando ao desastre. Os governantes se aproveitam dessa crença, que eles mesmos sustentam enquanto indivíduos.

    Tudo que eu disse é somente minha exposição do problema. Eu estou aberto a questionamentos e críticas.

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