sexta-feira, 27 de maio de 2011

Cortina de Fumaça - Você precisa ouvir o que eles têm a dizer.



Sempre tenho ressalvas com relação a documentários porque "tendem", ou seja, o interesse é nos fazer pensar em algo, e no caminho, pela forma que eles nos dão. Obviamente, um documentário apresenta uma ampla gama de pessoas com diversas "patentes" para nos dizer sua posição (que geralmente é a mesma do diretor do filme) e tentar nos convencer. Quando pega alguém distraido, um documentário pode causar bons estragos.

Mas esse é um daqueles documentários que me fizeram pensar muito. Não por causa das "patentes", dos "especialistas" ou dos consumidores famosos, mas da verdadeira avalanche de idéias que nos vêem à mente... se você não é um ideólogo da maconha, não tem problema, o documentário aborda os aspectos políticos; se você não se importa com os aspectos políticos, não tem problema, há várias nuanças sociais sendo levantadas... mas não te importa, porque vc está pensando no ambiente filosófico da maconha? é um aspecto que o documentário alcança muito bem...

Como alguém apontou nos comentários, é um documentário que "todo mundo no mundo deveria ver".

Sem preconceitos, é melhor assistir.

Parabéns ao diretor do documentário e aos camaradas que postaram no youtube. Divulguem se acharem interessante!
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Anotei bastante coisa do documentário, mas duas são particularmente importantes, e gostaria de compartilhar com vocês:

Na filosofia política liberal, os indivíduos "contratuam" pela segurança, em troca de parte de sua liberdade. É o famoso "minha liberdade termina onde começa a sua". Dessa forma surge um corpo operacional, que é o Estado, encarregado dessa função de defesa da ideologia política liberal - e depois dos indivíduos ricos (o que é quase a mesma coisa), e depois dos pobres. Caberia ao Estado distribuir qualidade de vida, produzida com a arrecadação (maciça) de impostos a que nos obriga pontualmente. Mas, ao longo das décadas, o Estado liberal só falha em tal obrigação, apesar de não falhar nunca na expropriação de sua contrapartida. Daí quando as pessoas escolhem fazer uso de drogas (algumas talvez para suprir um pouco da sensação terrível que é se sentir num mundo onde as pessoas abdicam de sua liberdade por um pouco de segurança ilusória) o Estado aparece e impõe todo seu peso de detentor do monopólio da violência (física apenas, pois partilha a violência moral com as grandes empresas), invadindo nossa privacidade e tirando (ainda mais) nossa liberdade. Onde está o Estado liberal, alguns ávidos jovens filósofos perguntariam, e eu respondo de pronto: ei-lo, esta é a verdadeira face dele.

Outro ponto que eu achei fenomenal foi a fantástica relação que segue: o fato de existir um produto ilegal permite ao Estado invadir a casa de alguém pelo simples pressuposto da existência do produto. A mesma situação se dá na relação com países Produtores e Consumidores de drogas Os EUA se põe aos outros países como um (coitadinho) país consumidor de drogas, e que a culpa disso é dos países (malvados) produtores. Daí é fácil deduzir o restante da observação: os EUA se julga o país defensor da democracia pelo mundo (há!) e, portanto, como um enorme corpo Estatal sobre os outros países, que são suas províncias. Com o pretexto de proteger a democracia da nação estadunidense, eles invadem os maléficos produtores de drogas para combater o mal "na fonte". Mas para mim fica cada vez mais claro que a questão é o enorme interesse que os EUA (e qualquer Estado nacional) tem nisso, pois esse pressuposto do produto ilegal dá o direito ao Estado de invadir quando quiser e se quiser. É o direito de invasão latente, seja de um país, seja da sua casa. Não é a toa que eles não querem legalizar a maconha... é um produto "ilegal" a menos para lhes dar o direito de entrar na sua casa, no seu país, e principalmente na sua vida. Eis a democracia que nós vivemos, mas que você escolheu.

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