sexta-feira, 20 de maio de 2011

Grécia e a agonia do destrono da dignidade de todo um país

Grécia - Chamado urgente à solidariedade internacional!


Companheiros e companheiras, o objetivo desta mensagem é informá-los/las brevemente sobre o que aconteceu durante os últimos dias em nosso país e fazer um chamado para a solidariedade internacional dos anarquistas de todo o mundo.
A Grécia está em um ponto de inflexão e ocorrem mudanças críticas na sociedade, como na política e na economia. A desarticulação e dissolução, até o presente momento, do modelo de autoridade e de exploração é mais do que evidente e torna concreto o que é geralmente chamado de "crise". O que nós estamos vivendo em definitivo é o fracasso absoluto de um sistema que, não podendo fazer mais nada para garantir o consenso social, se lança em um ataque frontal, sem condições e sem desculpas de qualquer tipo.
Quando começou a conjuntura que se chamou de "crise", a agressão foi manifestada em termos materiais - com a desvalorização do trabalho, redução dos salários, flexibilização das condições de trabalho, a institucionalização da instabilidade, o aumento dos preços dos artigos de primeira necessidade e as contas de bens de interesse comum, o aumento dos impostos e a redução dos serviços de bem-estar. Ao mesmo tempo, começou a liquidação a "particulares? da riqueza pública, a presença generalizada da polícia nas ruas, leilões, o aumento do desemprego...
Paralelamente, se articulou um ataque de propaganda sem precedentes, em um ritmo frenético de publicação, com os meios de comunicação controlados pelo Estado e pelo Capital, cenários de desastre e calendários com datas "apocalípticas", como "...se não for aprovada a próxima injeção de empréstimo pela troika [Fundo Monetário Internacional (FMI), Comissão Europeia (CE), Banco Central Europeu (BCE)], estamos falidos...". Com todo este mecanismo de comunicação da autoridade, consegue embaçar a visão continuamente, mantendo um estado de terror permanente, e assegurar definitivamente a paralisia, por meio da coerção, do corpo social.
LEIA MAIS Links: Indymedia Atenas | Occupied London | ContraInfo
Fotos: 01 | 02 | 03 | Fotos de racistas atacando imigrantes
Vídeos: Vídeos da polícia atacando a manifestação | Vídeo de fascistas e polícia atacando os imigrantes
Apesar de todo o exposto, nunca cessou a resistência dos grupos da sociedade grega e do proletariado. As poucas convocações para greves gerais partem dentro de um contexto definido em maior ou menor medida por pessoas que resistem e expressam sua intenção de lutar contra as condições impostas pelo Estado e Capital.
A manifestação da greve em 11 de maio em Atenas trouxe novamente milhares de manifestantes para as ruas, que expressaram sua oposição às novas medidas anti-sociais do governo, que afogam os trabalhadores e toda a população. Durante a manifestação, e enquanto alguns iam deixando a área do Parlamento para finalizar a marcha, a polícia atacou brutalmente e com raiva os blocos dos manifestantes mais radicais, e os blocos de anarquistas e anti-autoritários, as assembléias de bairro, as corporações operárias de base e a esquerda extra-parlamentar. Golpeando com muita dureza e utilizando grande quantidade de substâncias químicas, diluíram os blocos mencionados. Mais de cem manifestantes foram levados para hospitais e alguns deles submetidos à cirurgia.
O companheiro Giannis é o manifestante que está em pior situação. Tendo recebido um ataque assassino por parte da polícia, e com ferimentos graves na cabeça, foi transferido em situação de quase-morte (de acordo com a declaração dos médicos) para o hospital. Lá, foi vista a verdadeira extensão da hemorragia interna na cabeça, foi operado rapidamente e assim entrou, entubado e em estado grave, na unidade de terapia intensiva. Sua condição é crítica mas estável, mas ainda não superou o perigo de morte ou danos irreversíveis à sua saúde.
Claramente estes ataques assassinos contra os manifestantes grevistas na quarta-feira tinham um único objetivo: assustar as pessoas e os que resistem às agressões da autoridade estatal e econômica. Foi uma ação exemplificadora a fim de subjugar o povo e que parecia ter a seguinte mensagem: mantenham-se em suas casas e permaneçam tranqüilos e disciplinados.
Em seu quadro de ações o poder alista, cada vez de forma mais contínua, seus jovens de extrema-direita e/ou paraestatais. Os focos de violência racista, que estão se multiplicando em todo o país recentemente, tiveram seu pico na última semana. Com a desculpa de assassinato a sangue frio de um morador do centro de Atenas, durante a tentativa de roubá-lo, por imigrantes, se estendeu um massacre sem precedentes contra eles. Grupos fascistas, organizados ou não, de racistas e de ultra-direitistas, encontraram sua oportunidade; estão se concentrando a cada tarde e atacam os imigrantes, ferindo a muitos, e parece que o assassinato de um imigrante se deve aos mesmos. Paralelamente, neonazis juntamente com a polícia atacam okupas do centro de Atenas, levando companheiros a uma situação em que devemos defendê-los contra o perigo de perder a própria vida, contra a brutalidade policial e a barbárie fascista.
A situação critica é clara. No momento em que a sociedade recebe um golpe sem precedentes em termos materiais, seus grupos políticos mais radicalizados e, especialmente, o ambiente anarquista, estão na mira (e desta vez literalmente, a julgar pela mania homicida) da polícia e fascistas.
Por isso, apelamos urgentemente para a solidariedade internacional!
A solidariedade sempre foi um valor fundamental dos anarquistas. Nela que sempre nos baseamos para apoiar nossas lutas e para enfrentarmos a lógica do isolamento e de si mesmo, que impulsiona a autoridade do Estado, assim como o individualismo e da decomposição do coletivo que coloca o capitalismo.
No momento em que a sociedade grega e o proletariado estão sob crescente pressão, com um agravamento das condições de vida não visto até o momento; nestes tempos em que nós anarquistas recebemos um golpe repressivo do tamanho de uma tentativa de assassinato em si; nestes tempos em que o ambiente político anarquista está na mira da violência do Estado e da ameaça do fascismo; temos de ver os nossos companheiros de todo o mundo agir e manterem-se solidários com nossa luta, através de jornadas, manifestações, passeatas, protestos, textos, por palavras e por ações, da forma que considerem mais adequada. Qualquer mostra de solidariedade revolucionária que só os anarquistas conhecem e querem mostrar, levantará a moral e nos fortalecerá em nossas lutas.
Saudações, companheiros e companheiras.
Grupo dos Comunistas Libertários (Atenas)// Jornal Eutopia*
[http://prod.midiaindependente.org/pt/blue/2011/05/491116.shtml]
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Bom, eu gostaria de ressaltar alguns detalhes nesse fantástico artigo e também puxar algumas discussões que achei pertinentes - quem sabe não geram aqui, nesse suposto espaço de debate, algum bom debate.

  • Grécia e o destronamento da dignidade pela "comunidade" européia
Em 2009, durante uma drástica crise econômica que "abalou" o mundo todo,  a Grécia contraiu um dos maiores empréstimos já concedidos pela União Européia, no valor de 110 bilhões de euros. O mundo se recuperou (ou vestiu a máscara da recuperação), mas a Grécia não, porque ficou devendo 110 bilhões de euros. Para pagar a dívida, sérias medidas de austeridade estão sendo tomadas, como arrochos salariais, aumento da carga de trabalho, aumenta da exploração de mão de obra estrangeira, baixos investimentos em saúde, educação (vide, logo abaixo, Grécia e o neoliberalismo). 
Obviamente, tais medidas são um atentado contra a dignidade de qualquer povo, que vendo suas condições de vida serem dilaceradas por governos incompetentes e manipulados, se indignam. O Brasil da década de 90 sofreu os mais sérios arrochos de todo um século graças ao FMI, e, apesar de indigno, não se insurrecionou. A grécia, não, não aguentou calada. E agora arde.
Pagar uma dívida, suicidando-se, ou lutar contra a malversação da DIGNIDADE de um povo? A Grécia fez sua escolha.
  • Capitalismo agoniza, cai a mascara da democracia e do liberalismo, entra em cena a policia 
Quando o povo fica caladinho, a democracia burguesa/capitalista funciona direitinho. Mesmo quando um ou dois gritam, ainda vai tudo bem "Se tem voz, não ganha ouvidos". Mas quando as pessoas vão às ruas protestar contra as

medidas do governo, contra a carestia, contra a intervenção estatal em suas proprias vidas, o papai fica bravo, e cai sua máscara de democracia - saem às ruas a guarda civil, a polícia militar, e até o exército. A idéia não é só calar os que gritam, mas mostrar que aqueles que ficaram em suas casas, caladinhos, estavam certos desde o início - dar-lhes razão. Continuo acreditando que enquanto existir polícia/exército, não é possível existir democracia - muito menos participativa! A Grécia nos dá um bom exemplo do que acontece com quem faz uso de sua língua que não para lamber as bolas do Kapital. Saibamos que, ao menor movimento fora do padrão, o pau descerá sobre nossas cabeças.
  • grupos paramilitares de extrema direita se legitimam pela situação
 


Quando cai a máscara da "suposta" democracia e do Estado de Direito, Law & Order só existe para quem está a favor da Lei e Ordem burguesa - leia-se quem é rico. Pobre, manifestante, subversivo, anarquista, punk, imigrante, toma porrada na cabeça e vai parar no hospital por dois motivos: um por que não sabe ficar calado, e/ou está no lugar errado na hora errada. O homem branco, 40 anos, executivo, (leia-se o mítico "homem de bem") está sempre no lugar certo na hora certa: atrás do policial.
A polícia agradece à extrema-direita e seus jovens paramilitares sem autonomia moral pela "força" que dão ao massacrar imigrantes, minorias, punks e anarquistas, por colocarem fogo nos squats (moradias de punks, feitas em casas abandonadas no meio das cidades), por humilhares homossexuais, baterem em mendigos e principalmente por atirarem nas massas revoltadas em plena luz do dia. 
Atentemos muito bem a esse detalhe, afinal, no Brasil, a extrema-direita (existe direita que não seja extrema?) está muito bem organizada e se articulando ainda mais, com nossos deputados racistas e homofóbicos dando declarações repugnantes para a televisão, senadores "de esquerda" defendendo o mais neoliberal plano de transformação do verde florestal em verde monetário, escondendo escândalos de corrupção e assassínios de direitos e pessoas no Norte e no Nordeste com notícias bombásticas de "reconhecimento da união homoafetiva" - COMO SE OS HOMOAFETIVOS PRECISASSEM DO RECONHECIMENTO DE SEUS SUPOSTOS REPRESENTANTES!!! etc. Quem viu a patética manifestação dos direitinhas no MASP (vide youtube) que entenda direito: aquilo é fermento. 

  • a emergência de um "novo" bode expiatório - o estrangeiro 
Como em toda crise econômica, os governos reacionários fazem questão de deixar claro que o problema do desemprego é ocasionado por um simples indivíduo: o estrangeiro que mora do lado da sua casa. A Grécia, alí no mediterrâneo, recebe contingentes de trabalhadores do Norte da África e mesmo de países europeus vizinhos. Geralmente esses metecos vão para a construção civil ou trabalhos insalubres, igualzinho os chicanos nos EUA, ou os bolivianos em SP... Um dia foram os Judeus, hoje são os palestinos; são os muçulmanos, são os negros, são os sem-pátria, são os pobres, são os doentes, enfim, cada hora põe no "outro" um rótulo diferente - justamente para diferenciá-lo daqueles que realmente importam: nós.

  • violencia e anarquismo - pq a grecia está pegando fogo
Essa é uma foto "antiga", ou melhor, "clássica"
Os acontecimentos na Grécia contam com uma vasta rede de anarquistas, mas nem só de anarquistas vive a revolta grega. Pessoas comuns descomunadas, donas de casa sem casa, trabalhadores em greve de servilismo, partidários, partidistas, homens-partidos, etc, estão indo às ruas, porque essa não é uma luta meramente política, que se dá no campo das assembléias, dos congressos nacionais e todo o picadeiro do tipo, mas uma luta pelo essencial, por aquilo que toca na dignidade, contra a carestia, e contra a ingerência de um governo submisso aos interesses econômicos de outros países-empresa.
Muitos jovens vão às ruas e jogam seus molotovs, botam fogo em caixas-eletrônicos, param metrôs, povoam as madrugadas arquitetando terrorismos - poéticos ou não. Toda essa aparência de barbárie está sendo usada pela mídia para maquiar o verdadeiro terrorismo que está sendo imposto de cima para baixo pelo mais uma vez! maldito governo grego. É sempre assim: quando um manifestante é atingido por um tiro de borracha a queima-roupa é porque não sabe ficar calado, quando um policial é atingido por uma pedra é um coitadinho que só tava cumprindo seu dever... fica a pergunta: Qual é o dever de um ser humano indignado?

A maior parte dos pensadores anarquistas são contrários aos métodos violentos porque na verdade eles acabam causando mais medo do que incentivando ao raciocínio lógico. No entanto, eu penso que contra a violência do Estado existem tanto possibilidades não-agressivas (vide provos, e mais, um ilustre desconhecido chamado Ghandi) quanto agressivas - essas, muito bem acompanhadas de informação, divulgadas pelos mais diversos meios possíveis. Nesse ponto, eu não sei informar como andam a divulgação do anarquismo na Grécia... mas penso que se as pessoas estão indo para a rua apesar da fumaça , alguma coisa está dentro delas, e mesmo que não seja o anarquismo, é certamente tão forte quanto.

  •  Quantas vezes voce ouve a palavra Grécia na midia?
Passei algumas horas pesquisando e perguntando para pessoas que assistem televisão sobre notícias da Grécia. Algumas comentaram que de vez em quando alguém fala que os trabalhadores estão de greve e prejudicando a economia do país, e por isso o país não consegue pagar a dívida para com a União Européia (rede globo de sofistas). Na internet, vários blogs divulgam a todo momento fotos, pedidos, moções de apoio, notícias sobre uma Grécia insurreta. Me parece que mais uma vez a mídia não está do lado de cá da coisa.

  • precarização e neoliberalismo
Tudo perspassa o projeto neoliberal da aldeia global. Grécia: pague o aluguel - diz a União Européia ao primo pobre, como disse a Portugal e Espanha nos anos anteriores. Há outros países como a Croácia querendo entrar pro banquete (digo, o GOVERNO da Croácia, porque o povo, eu não sei) para comer pelo menos as migalhas, para participar da zona de conforto, mesmo que numa situação meio desconfortável de ter de precarizar seu interior para que as mega empresas e conglomerados possam se apossar de tudo, principalmente saúde, educação e a vasta área de Direitos... ok. O Brasil também tá nessa. Mas não tá pegando fogo.

Até quando você vai levando
porrada porrada!
Até quando vai ficar sem fazer nada!?

Esse artigo é uma breve pincelada, apesar de longa. O assunto "Grécia" infelizmente atrai mais pela sua história "antiga" do que pelos acontecimentos atuais. A fumaça que tampa nossa vista até lá não é dos caixas eletrônicos que insistem em pegar fogo todas as noites, mas das famigeradas bombas de gás lacrimogêneo. Pena que já não choramos mais. Acostumamos a apanhar calados.

Engole o choro, moleque.
http://www.vermelhoenegro.co.cc/2010/10/solidariedade-aos-anarquistas-presos-na.html 

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